*Por Raquel Serini
Existem diversos aspectos que impactam na precificação do frete, e que vão muito além da distância entre o remetente e o destinatário. Apesar de cada um ter uma forma de realizar o cálculo, eles se apoiam na “Tabela de frete”, que considera as variáveis de acordo com as características do serviço, e assim, chega-se a uma cobrança específica para cada cliente.
O desafio surge quando há vários clientes para atender, fazendo com que seja necessário controlar diversas tabelas e formas de cálculo distintas. O que torna praticamente impossível a conferência manual dos valores, por isso, o controle dos custos é tão importante.
Nesta edição, vamos falar de forma mais aprofundada sobre esse tema, explicando a importância do cálculo correto, as consequências de uma implantação inadequada e o impacto dos custos para o contratante e para o contratado.
O cálculo adequado do valor de frete é fundamental para que as melhores decisões de negócio sejam tomadas. Erros podem levar a vendas com margens abaixo do esperado, ou mesmo, à perda da venda por desistência do cliente. Nesse sentido, é preciso levantar quais são todas as variáveis que envolvem o preço, buscando chegar ao valor ideal e evitar prejuízos.
Por isso, confira os fatores que influenciam na formação do valor. Veja a seguir.
- Peso e dimensões
Normalmente, a variável do peso é definida a partir da comparação entre o peso bruto e o peso cubado (que é a multiplicação das dimensões da embalagem por um fator determinado), usando o maior entre eles para realizar o cálculo. Em termos gerais se a área ocupada for proporcionalmente maior do que o peso do produto, ela é que será considerada para o cálculo.
A ideia é fazer com que a cobrança seja mais justa, tendo em vista que, mesmo que os produtos sejam leves, se forem volumosos, ocupam mais espaço no veículo, impedindo que mais itens sejam incluídos na carga.
- Valor da Nota Fiscal
O valor da nota fiscal também é um dos fatores que mais influenciam no valor do frete cobrado pelas transportadoras. Em alguns casos, o preço final da entrega baseia-se apenas numa taxa percentual da nota fiscal, quanto maior for o valor do item, mais oneroso é o transporte. Percebe-se isso por meio da diferença de preço quando o produto carregado é tratado como carga valiosa. Além disso, existem várias taxas que são calculadas a partir do preço do produto, como por exemplo, taxas de gerenciamento de risco e seguros.
- CEP de destino
A distância entre o local da coleta e o da entrega também influencia no cálculo do frete. Quanto maior for a quilometragem, maior será o valor cobrado. Isso se dá, principalmente, pelo gasto que se tem com combustível e pneus para a realização do transporte. Algumas transportadoras definem esse custo como valor do frete por km rodado. Além disso, regiões de difícil acesso, como áreas de risco e regiões afastadas, que somente podem ser acessadas via barco ou avião, também tem um preço diferenciado.
- Categoria do produto
Quando os produtos a serem transportados possuem características especiais, que requerem uma tratativa diferente no manuseio e transporte, o valor cobrado costuma ser maior. É o caso de cargas frágeis, que precisam de um reforço maior na embalagem para o transporte, e itens perecíveis que necessitam de um transporte rápido ou um veículo próprio, como cargas vivas, flores e medicamentos, por exemplo. Estes recebem um tratamento diferenciado no momento da formação do preço final do frete.
- Características do destinatário
Algumas transportadoras também consideram a periculosidade e o grau de dificuldade na entrega para cobrar um valor maior. Áreas em que há o risco de extravio ou furto das mercadorias no ato da entrega, e que são de difícil acesso para o veículo chegar ao local são as que estão inclusas nessa categoria. Assim também, os locais como shoppings ou grandes centros de distribuição, que requerem um tempo de carregamento e descarregamento de carga maior.
- Prazos diferenciados
A necessidade de enviar os pedidos para os clientes com prazos diferenciados também afeta o valor do frete, tornando-o mais caro. A diferença é ainda maior quando é necessário fazer a troca de modal, por exemplo, quando se troca o rodoviário pelo aéreo, reduzindo o prazo consideravelmente.
- Pedágios e taxas específicas
Além de todas as variáveis já citadas, também há a incidência de taxas, pedágios e impostos, que acabam aumentando o valor do frete. Dentre eles, temos:
- Pedágios – São cobrados de acordo com o percurso que será percorrido para a realização da entrega. Quando a carga é fracionada, algumas transportadoras costumam fazer o valor do rateio total entre os pedidos que estão sendo enviados. O que faz com que os custos sejam menores para os clientes. Normalmente a taxa é cobrada a cada fração de 100kg.
- Taxa de Gerenciamento de Risco (GRIS) – É cobrada com o objetivo de cobrir os custos relacionados à prevenção de riscos e no combate ao roubo e furto das cargas. Incide com base em um percentual sobre o valor da nota fiscal.
- Taxa de Coleta e Entrega – Pode existir dependendo da distância entre a localização da transportadora e da empresa contratante. Serve para cobrir os custos de deslocamento para a retirada na origem e envio para o cliente.
- Estadia – É a compensação do valor do tempo de espera para carga e descarga, já previsto pela Lei da estadia, de acordo com a publicação nº 13.103/2015, que regulamenta não só a atividade de transporte, mas também a jornada de trabalho do motorista, e estabelece que após a quinta hora de atraso deve ser cobrado R$ 2,12 por tonelada/hora.
- Frete Valor (Ad Valorem) – Sua cobrança é para assegurar as cargas transportadas quando elas não estiverem em trânsito. Também é estabelecida com base em um percentual sobre o valor da carga.
- Taxa de Restrição ao Trânsito (TRT) – Existem alguns locais que possuem restrições com relação à circulação de veículos pesados, horários de circulação ou mesmo atividades de carga e descarga, como por exemplo, a cidade de São Paulo. Nesses casos, algumas transportadoras cobram valores adicionais para realizar o transporte.
- Os custos pós-envio
Existem algumas situações adversas durante uma entrega, que podem fazer com que o valor do frete seja maior do que o planejado inicialmente. Dentre elas, temos:
- Dificuldade na entrega para o cliente – devido à restrição de horário ou quando o motorista precisa aguardar mais do que o tempo necessário para realizar a descarga, (essa é uma cobrança chamada de ‘diária’);
- Devoluções – ocorrem quando é trocado o envio de um pedido, por exemplo; e
- Reentrega – quando existe a necessidade de reenviar a carga. Pode ser necessário em decorrência de um extravio, ou por causa, da não entrega na primeira tentativa;
- Imposto
O ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) também é incluso no valor do frete, visto que incide sobre todas as operações que envolvem transporte intermunicipal e interestadual. Para envios intramunicipais, é cobrado o ISS (Imposto Sobre Serviços).
- Tarifa Mínima
Algumas transportadoras determinam um peso mínimo para cobrança de frete, que normalmente é de 50 kg. Nessas situações, mesmo que o peso maior entre o bruto e cubado seja pequeno, a tarifa irá incidir sobre mínimo que foi estipulado para entrega no contrato.
De olho no valor do frete
A complexidade da formação do preço de entrega é gerenciada por meio do cruzamento de todos os dados na chamada “Tabela de frete”. Sendo assim, ao consolidar todas as informações referentes ao pedido, utiliza-se as informações disponíveis para fazer o cálculo baseando-se no que foi estabelecido por contrato com a transportadora.
Além disso, quando esse custo é muito elevado e a precificação para o consumidor final não é adequada, a lucratividade é prejudicada. Portanto, além de ser necessário fazer a identificação para fins de controle financeiro, ela é necessária para que a formação de preço seja ideal, garantindo a saúde financeira da transportadora.
*Raquel Serini é economista do IPTC.
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