
Novo teste e selo de auditoria são as alternativas para constatar a qualidade do Agente Redutor Líquido Automotivo ( Arla 32 )
O Agente Redutor Líquido Automotivo (Arla 32) é uma solução transparente à base de ureia em água desmineralizada usada para controlar a emissão de óxidos de nitrogênio (NOx) no gás de escapamento, diminuindo a emissão de gases poluentes.
“Antes do Euro 5, não existia um sistema de pós-tratamento de gases de escape, somente um equipamento que se resumia a reduzir ruído. Basicamente, era um silenciador simples, o qual não tinha nenhuma função química”, explica o gerente sênior de Marketing de Caminhões da Mercedes-Benz Brasil, Marcos Andrade.
No Brasil, o Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente), por meio da Resolução nº 403/2008, que regula os limites máximos de emissão de poluentes, estabelece o uso obrigatório do Arla 32 em veículos com motores Euro 5 e Proconve P7 (Programa de Controle de Poluição do Ar por Veículos Automotores) movidos a diesel.
O descumprimento dessa exigência pode resultar em multas para o proprietário do veículo ou empresa de transporte. Só que, na prática, contrariando essa obrigatoriedade, cerca de 70% do mercado nacional de Arla 32 está fabricando o produto de forma irregular. Quem expõe esses dados é Antônio Roberto, vice-presidente da Anfarla (Associação Nacional dos Fabricantes de Arla 32).
Roberto conta que no produto adulterado o tipo da ureia muda completamente. “Um Arla falsificado ou de baixa qualidade geralmente é composto pela ureia importada para a produção agrícola, com alto teor de aldeído para enriquecimento do solo”, diz.
Diferente da ureia automotiva, que é totalmente diluída para cumprir seu objetivo de pulverizar o catalisador do caminhão, a agrícola não se dissolve com facilidade. “Assim, na reação surgem micropartículas que vão contaminando o catalisador, e com o tempo o entopem”, fala Roberto.
Detalhando mais o funcionamento do produto no caminhão, Andrade explica que após a injeção, o Arla se transforma em amônia (NH3) e em seguida, passa por uma reação química no catalisador, onde transforma NOx, um gás prejudicial e que causa o efeito estufa na atmosfera, em água (H2O) e Nitrogênio (N2).
“Isso é possível porque há um espaço dentro do catalisador onde ocorre essa reação química. Só que quando começa a colocar um Arla 32 que não é puro, ocorre a contaminação do espaço e a reação química fica cada vez menor. Até que chega o momento em que você não tem mais a reação em intensidade suficiente para reduzir a quantidade de NOx que exige a legislação”, esclarece o gerente da Mercedes-Benz.
Com o tempo, por não passar pela reação química, a amônia acaba sendo jogada na atmosfera. Então, ocorre uma dupla contaminação do ar, pelo NOx que saiu do motor e não foi tratado e pela própria amônia.
Isso é extremamente nocivo do ponto de vista ambiental, mas não é só o meio ambiente que perde com isso, as consequências serão sentidas também no bolso do dono do veículo quando, inesperadamente, ele tiver que realizar uma manutenção.
“A utilização de Arla 32 adulterado compromete diretamente a eficiência do sistema de pós-tratamento, podendo causar falhas no catalisador, devido ao aumento das emissões, e consequentemente perda de desempenho do motor com aumento no consumo de combustível ou até redução da potência entregue ao veículo, dependendo da severidade”, avisa também Rodrigo Chaves, vice-presidente de Engenharia da Volkswagen Caminhões e Ônibus.
Segundo a montadora Scania, há registros de fornecedores que, além de usar ureia destinada a fertilizantes no Arla, usam também a água comum de torneira. “Os sais presentes na água comum formam uma camada de depósitos de coloração esbranquiçada que obstruem os elementos cerâmicos que estão presentes dentro dos catalisadores”, alerta.
“Essa situação logo mais obrigará o dono do caminhão a trocar o sistema de pós-tratamento, o qual é uma peça de alto custo, até porque ela não foi projetada para ter uma manutenção”, reforça Andrade.
O catalisador é uma peça feita com metais nobres se “inutilizado devido um custo elevado para reparação, não compensa em nada a eventual economia obtida na compra de um Arla 32 sem qualidade”, adverte o posicionamento da Scania.
De acordo com levantamento da Anfarla o preço do agente redutor de emissões de poluentes é, em média, de R$ 2,30 o litro. Já o Arla irregular, estima-se que seja vendido por aproximadamente R$ 1,50 o litro.
“Em caso de suspeita de uso de Arla 32 adulterado, assim que notar qualquer alerta no painel ou redução de desempenho, o recomendado é que o cliente leve o veículo para avaliação na rede de concessionárias”, indica Chaves.
A quantidade de Arla no veículo varia conforme o modelo. É bastante comum que alguns transportadores que fazem viagens de longa distância coloquem tanques adicionais, para não abastecerem no meio do caminho, porque já sabem que nem sempre o que está sendo oferecido é confiável.
Não se fabrica ureia no Brasil. Roberto fala que a ureia do tipo automotiva é um composto importado e precisa de um transporte especial feito em Bigbags, porque os grãos não podem ser contaminados com a umidade.
Enquanto a ureia agrícola pode vir a granel e também tem subsídio de impostos porque serve à agricultura. Todo esse impacto faz com que o custo dela seja 40% mais barato do que a ureia automotiva.
Ainda que a deterioração do sistema de pós-tratamento de gases por conta de um Arla falsificado demore a acontecer – e isso varia dependendo do grau de contaminação – as montadoras consultadas: Mercedes-Benz Brasil, Scania e Volkswagen Caminhões e Ônibus, confirmam que ela é inevitável e ocorrerá, mais cedo ou mais tarde. A montadora Iveco também foi consultada a respeito, mas optou por não participar da reportagem.
“Se a oferta parecer duvidosa por algum motivo, não vale correr o risco”, Marcelo Rodrigues, presidente do SETCESP
“O dono do veículo que economiza no Arla comprando um produto adulterado, porque é relativamente barato, faz uma economia pouco inteligente, porque no final terá um custo gigante. É algo que não vale a pena, não faz o menor sentido”, avisa Andrade.
“Como em todo setor, temos que ter o cuidado ao analisar as condições comerciais tanto de disponibilidade quanto de qualidade e preços. Se a oferta parecer duvidosa por algum motivo, não vale correr o risco. Antes de comprar, é preciso conferir as especificações do produto”, orienta o presidente do Conselho Superior e de Administração do SETCESP, Marcelo Rodrigues.
Testar para aprovar
Durante algum tempo, o transportador não tinha como saber se o agente redutor de gases poluentes era de boa qualidade. O único motivo de desconfiança era o preço, mas agora os testes que garantem a qualidade do Arla 32 vêm se popularizando no mercado e estão mais acessíveis.
“O transportador é a vítima. O objetivo dele é baixar custo, e naturalmente ele vai procurar o menor preço”, avalia o vice-presidente da Anfarla. “Antes, ele nem ao menos conseguia identificar a qualidade do Arla32. O fabricante mal-intencionado jurava de pé junto que estava vendendo um produto de qualidade. Só que não estava”.
Atualmente, o transportador pode recorrer a alguns testes para examinar a qualidade do Arla. Um deles é o refratômetro
A Polícia Rodoviária Federal, Ibama e Inmetro fiscalizam a venda de Arla, mas conforme relata Roberto, os falsificadores dão um jeito de burlar o sistema porque a margem de lucro para colocar o produto de baixa qualidade no mercado é extremamente alta. “Existem indústrias aparentemente normais trabalhando dessa forma irregular”, aponta.
A adulteração em qualquer etapa da composição do Arla 32 é considerada um crime ambiental. Apesar disso, o setor ainda não percebe uma fiscalização eficaz sobre o tema. “Não vejo uma ação efetiva nesse sentido. No entanto, acredito que, caso ela ocorra, os postos de combustível seriam os pontos ideais para esse tipo de averiguação”, afirma o presidente do SETCESP.
Atualmente, o transportador pode recorrer a alguns testes para examinar a qualidade do Arla. Um deles é o refratômetro, que avalia se a concentração de ureia está correta. O outro mede a quantidade de metais na água para saber ao certo se a água foi desmineralizada.
A grande novidade no mercado testa a qualidade da ureia do Arla 32 a partir da mistura com o gás sulfúrico. “A Anfarla trabalhou bastante para homologar este teste junto às autoridades. Por usar um elemento químico bastante delicado foi um processo complicado, mas trouxe um ganho considerável para o consumidor. Estamos trabalhando na divulgação para ampliarmos a testagem e garantir que o mercado tenha um Arla de qualidade”, diz o representante da Anfarla.
Ainda segundo Roberto, o novo teste tem sido tão bem-sucedido que já houve exportação dele para outros países da América Latina. Também para garantir a boa procedência do Arla 32, a Anfarla concede aos associados um certificado de que o produto vendido é o adequado, assim os transportadores têm outra maneira para comprovar a qualidade.
“A associação fiscaliza os associados e faz a auditoria contínua e concede o selo de verificação para os consumidores conseguirem checar”, diz Roberto. O selo vem com um QR Code, que direciona a uma página com as informações individuais daquele fornecedor e o status da sua verificação.
Rodrigues também observa que a melhor maneira de verificar se o Arla é de boa qualidade é testando. “Somente com a realização de testes é possível ter certeza. No entanto, adquirir o produto de um parceiro de confiança, que comprove a autenticidade por meio de selos ou certificados, já é um bom começo”, aconselha ele.
No site da Anfarla é possível consultar os fornecedores de Arla 32 que passam por auditorias e se o produto oferecido está dentro dos padrões de qualidade. Clique e confira.
Caso o transportador queira fazer uma denúncia sobre a venda de Arla irregular, ele pode recorrer a dois diferentes órgãos de fiscalização. Um deles é o Ibama, no qual a queixa pode ser feita por meio da página Fala BR do Governo Federal ou pelo telefone 0800 061 8080, de segunda a sexta, das 7h às 19h. O outro é a PRF, através do WhatsApp (21) 9677 46530.

Imagem ilustrativa do Selo de garantia da Anfarla com o QR Code para verificação do status da auditoria.
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