*Por Raquel Serini
Você já ouviu sobre a SELIC (sigla para ‘Sistema Especial de Liquidação e Custódia’)? Ela é a taxa básica de juros definida pelo Banco Central para controlar a inflação. Mas, em meio a tantas oscilações de preços, fica difícil compreender como essa taxa muda a rotina dos consumidores e também das empresas.
Apenas para contextualizar, a cada 45 dias, o Comitê de Política Monetária do Banco Central, o COPOM, se reúne para avaliar como anda a atividade econômica do país, e se a inflação está controlada. A partir dessas análises, é definida a meta para a Selic.
Na reunião realizada em 15 de junho de 2022, por exemplo, essa taxa ficou em 13,25% ao ano, a décima primeira alta consecutiva, o maior valor desde fevereiro/2017.
E como isso pode afetar os negócios?
O Comitê visa retomar o controle inflacionário, por meio da desaceleração do consumo e investimento dos agentes econômicos, ao tornar mais caro o acesso ao crédito, uma vez que, a Selic serve de referência para todas as demais taxas de juros.
Resumindo, você aumenta o custo do dinheiro, o que na prática se traduz em crédito mais caro, gerando um impacto nas decisões de investimento das empresas, bem como o endividamento e a demanda dos consumidores por serviços, inclusive de transporte.
Da mesma forma que o aumento das taxas desestimula o consumo, ele favorece a poupança, que por sua vez torna-se mais atrativa, porque aumenta a lucratividade, ou seja, é mais vantajoso ter dinheiro no banco. No final das contas, há menos dinheiro na economia e, portanto, há menos pressões inflacionárias.
Entretanto, aumentar as taxas não é uma receita mágica, o que explica por que esta estratégia funciona melhor em alguns países do que em outros.
Consequentemente, gera um efeito de “moderação para o crescimento econômico”, o que fica claro é que encontrar o equilíbrio nas decisões de política monetária conforme as necessidades de cada país, não é uma tarefa fácil.
Portanto, o receio da maioria das transportadoras está relacionado com o custo do crédito, ferramenta a qual essas empresas têm certa dificuldade de acesso. O temor é de que a Selic mais alta piore a situação, e como resultado, afete o planejamento de diversas formas.
Desta maneira três grandes pilares são comprometidos dentro das transportadoras:
- Renovação de Frota: financiar a compra de caminhões fica mais caro com a alta dos juros. Existem duas linhas de crédito mais buscadas no mercado; que são o CDC (Crédito Direto ao Consumidor) e o FINAME/BNDES (Financiamento de Máquinas e Equipamentos). Com as taxas elevadas o CDC deve perder o protagonismo, deixando o FINAME representar a maior parcela dos empréstimos para a categoria, já que nele é possível escolher entre taxas pré-fixadas ou pós-fixadas. No FINAME também há opções sem entrada e com carência de seis meses para o primeiro pagamento, mas que também exigem das empresas alguns critérios e obrigatoriedades, como estar em dia com os tributos federais.
- Capital de Giro: ter uma reserva traz mais flexibilidade para a tomada de decisão. Contar com o capital de giro para elevar seu faturamento quando a procura por seus serviços aumenta é um fator importante, principalmente, para as pequenas e médias transportadoras. Como por exemplo, ter à disposição recursos para contratar mais motoristas e não precisar recusar solicitações de frete. Além disso, muitos captam recursos de terceiros para subsidiar o capital de giro em suas empresas, uma vez que o prazo médio de recebimento do setor fica em torno de 42 dias, isso ocorre com 69% das empresas de transporte em média. O que compromete cerca de 10% do faturamento, estrangulando as contas do dia a dia.
- Empregos: com a capacidade de pagamento comprometida, atingimos em cheio a possibilidade de geração de empregos, não só no transporte, mas em outros setores de forma geral. Isso porque, com os juros subindo depressa o consumo é reduzido, afetando as vendas, que por tabela suspendem ou adiam os planos de ampliação das contratações. Apesar dos resultados positivos até abril/2022 para as admissões, segundo o CAGED, o setor de transporte rodoviário de cargas apresentou uma base comparativa muito baixa, uma vez que, o ano passado compreendeu um período de crise e recessão, embora em proporções diferentes para algumas empresas.
Será que mesmo com todas essas medidas, “suavizamos” a inflação de fato? Está mais do que comprovado que a conjuntura econômica atual tem refletido negativamente, a começar pela alta dos combustíveis e de produtos correlatos. As transportadoras não estão conseguindo absorver esses custos e tem sido muito difícil manter a saúde financeira das empresas.
Estima-se que em 2023 a projeção para Selic seja de 9,25% e para o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) de 4,5%, o que eleva as expectativas do mercado. Por isso, precisamos acompanhar de perto as movimentações e seus reflexos. Fique atento!
*Raquel Serini é economista do IPTC.
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