A importância de ouvir os motoristas
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*Por Fernando Zingler

A retenção de motoristas de veículos de carga tem sido um assunto muito discutido pelo setor de transportes em geral, devido à escassez de profissionais e a dificuldade de contratação de mão-de-obra qualificada.

Atualmente, diversas empresas têm apostado em mapeamentos específicos para entender o perfil profissional dos motoristas que as atendem, e com isso, buscar estratégias de retenção personalizadas para eles.  Pesquisas como essas estão entre as especialidades do IPTC, que tem trabalhado para auxiliar as empresas a se posicionarem melhor junto aos clientes através da imagem do motorista.

Conhecer o perfil dos motoristas é um grande desafio para as transportadoras. A capacitação do motorista passa por um processo que pode durar de 300 a 400 horas, em média, além do período de experiência exigido na maioria das contratações. Cada vez mais, as transportadoras têm buscado selecionar profissionais através de indicações de outros motoristas ou de outras empresas, o que acaba limitando o alcance das ações, e ainda dificulta a comprovação dos pontos de especialização e experiência.

Conhecer o que o mercado tem a oferecer e como está o serviço prestado pela concorrência é fundamental para  manter-se competitivo, razão pela qual também a diversidade de perfis de motoristas é muito bem-vinda. As mulheres motoristas de caminhão também têm muito a acrescentar nesta jornada, pois trazem esta pluralidade e levantam questões que impactam muito na satisfação do motorista, como a relação da família na profissão e as ações que a empresa tem tomado para satisfazer este importante ponto da vida pessoal dos caminhoneiros.

As pesquisas que realizamos têm identificado um padrão comum: as insatisfações com os processos operacionais da empresa, principalmente, aqueles ligados à expedição e carga e descarga dos veículos. Muito do trabalho dos motoristas proporciona apenas um breve contato com setores internos da empresa, porém a maior porção das atividades do motorista é fora da organização. Por isso, muitos relatam a dificuldade de integração com setores específicos, como o administrativo e diretorias, e muitas vezes, até desavenças frequentes com a maior interface deles dentro das empresas durante o carregamento.

Diversas pesquisas já mostraram que o maior ponto de insatisfação dos motoristas está relacionado com a subordinação a ele atribuída: a maior parte deles não tem uma boa relação com seu superior e a equipe. Esta é a causa de mais de 70% dos pedidos de demissão, que partem do próprio colaborador. Não chega a ser uma insatisfação com a firma, mas sim com o campo de interação da empresa, que lhes é oferecido e que eles têm mais contato.

A média liderança tem que estar preparada para se relacionar com os motoristas, entendendo bem suas motivações e frustrações, para que não haja atritos nas operações de carregamento antes do motorista pegar a estrada.

Aliás, este é um ponto importantíssimo relatado pelos motoristas nas pesquisas. O momento que eles estão nos pátios aguardando o carregamento é essencial para o bem-estar e descanso deles, que partirão para a estrada em breve. Neste momento, todo e qualquer conforto oferecido a eles, auxilia na preparação e na segurança da direção. Além disso, há ainda a preocupação com a forma que o motorista vai representar a empresa no cliente: caso ele saia da empresa frustrado, há poucas chances de não demonstrar na outra ponta, ocasionando em uma perda na qualidade do serviço prestado e um dano imensurável para a imagem da empresa. Hoje, muitas transportadoras têm apostado em salas de espera para motorista, com o conforto e atividades que possam ajudar no relaxamento pré-viagem e reforçando ações positivas da empresa.

Outro ponto do estudo que realizamos tem chamado a atenção: a dificuldade dos motoristas para explicarem em qual empresa trabalham ou qual produto carregam. A maioria dos motoristas entrevistados em pesquisas realizadas sabe apenas relatar questões básicas sobre o produto que carregam ou a organização que representam. Muitas vezes, nem chegam a saber para qual empresa estão prestando serviço, apenas quem contratou o frete e para onde devem destinar a mercadoria. No mercado atual, este tipo de situação é impraticável, devido à grande competitividade do meio digital e a rapidez com que as informações se propagam – uma imagem negativa projetada por um colaborador pode tomar proporções enormes, arruinando negócios. Quem leva o nome das empresas de transporte é o motorista, e por isso devemos ajudá-lo a melhor se apresentar de acordo com os valores e cultura da empresa para quem está carregando.

As pesquisas realizadas pelo IPTC traduzem estas informações em dados, que permitem comparar a qualificação dos motoristas com o mercado, ajudando a direcionar investimentos e criar planos de ações para melhorar o serviço prestado pelas transportadoras.

Existem diversas formas de reconhecer os motoristas e criar políticas de incentivos para eles, tanto dentro como fora da empresa, porém a dificuldade é saber quais destas serão mais assertivas com o perfil profissional dos colaboradores, além da forma que eles esperam ser percebidos pelo backoffice e outras áreas da empresa. A fórmula padrão já não atende a maioria das empresas, que precisam de soluções personalizadas para respeitar a individualidade dos colaboradores e a cultura da empresa.

*Fernando Zingler é diretor executivo do IPTC.


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