Pesquisa encomendada pelo SETCESP ao IPTC aponta como é a representação feminina no setor de transportes
Um estudo feito pelo IPTC (Instituto Paulista do Transporte de Carga) a pedido do SETCESP revelou como está a participação das mulheres no setor, de acordo com informações coletadas com as áreas de Recursos Humanos das transportadoras. A pesquisa foi feita durante todo o mês de outubro com a participação de quase 70 empresas.
“Desta vez a gente procurou um panorama sob a ótica das organizações, de como estão enxergando a colocação das mulheres no mercado profissional, e trouxe alguns resultados interessantes”, diz Fernando Zingler, diretor executivo do IPTC, que afirma que foi possível traçar um panorama de quais fatores levam a contratação e o afastamento das mulheres no setor.
Ele lembra que, no ano passado, o instituto havia divulgado uma outra pesquisa, mostrando a perspectiva das mulheres que trabalham no transporte rodoviário de cargas. “De forma geral, a pesquisa de agora apresentou um olhar da participação feminina e ajudou as empresas a refletirem sobre o tema, fazendo uma avaliação e autocritica”, conta.
O estudo indica que a participação das mulheres nas empresas de transporte não chega a um quarto do quadro de profissionais. Nos cargos de média gestão (coordenadoras e supervisoras) elas são pouco mais 40%, e quanto mais aumenta o nível hierárquico, mais a participação delas diminui. Nos cargos de alta liderança (gerentes e diretoras) esse número vai a 32% e depois cai para 22% em cargos de presidência.
A área em que as empresas menos contratam mulheres é a operacional, já a que mais oferece cargos para elas, como era de se esperar, é o setor administrativo. Entre os profissionais motoristas as mulheres não são mais que 1%.
Esses resultados também são explicados pela falta de políticas para contratação de mulheres, diz a economista do IPTC, Raquel Serini. Apenas 24% das empresas possuem essas diretrizes. Se olharmos para políticas de diversidade e inclusão, menos de 20% das transportadoras realizam qualquer ação neste sentido.
O resultado disso pode ser sentido no índice que apontou o segundo maior motivo que leva a saída de mulheres do TRC; que é uma melhor oferta salarial em outros setores (bancos, comércio e indústria). Esse dado junto com a busca por melhores de condições de trabalho, explica 1/3 da evasão de profissionais mulheres no setor de transporte rodoviário de cargas.
Serini avalia que isso tem impacto direto em outro índice que vem sendo visto como uma preocupação para as empresas do TRC, a rotatividade de pessoal. “As empresas precisam rever as políticas de retenção, para manter seus talentos, inclusive suas profissionais mulheres, melhorando a infraestrutura e estabelecendo políticas que valorizem a diversidade, para diminuir também seu custo de rotatividade de pessoal”, alerta a economista.
“Essa pesquisa sobre o papel das mulheres no transporte rodoviário de cargas permite mapear a realidade atual. É sempre uma fotografia do momento, mas que possibilita criar novos caminhos. É necessário saber onde estamos para definir para onde vamos”, afirma a antropóloga Ivone Martins.
Martins explica o porquê o transporte rodoviário de cargas é considerado tradicionalmente um setor masculino. “Quando se fala na área operacional de empresas de transporte o arquétipo do homem é ainda mais forte. Existe uma ideia de que se trata de uma área desenhada para os homens, por demandar resistência e até força física. O que, por consequência, torna um impeditivo para participação feminina”.
A antropóloga sugere que há dois olhares para entender a baixa participação da mulher no transporte rodoviário de cargas: um interno, sobre o setor em si, e outro, externo, sobre o mercado. “Do ponto de vista das empresas, elas precisariam investir em suas estruturas e criar políticas que contemplem também as mulheres. O que ainda não acontece em muitas companhias do setor, conforme aponta a pesquisa 76% delas não investem. Mas agora do ponto de vista feminino, historicamente mulheres com os mesmos cargos que os homens ganham menos do que eles”.
De acordo com o Índice de Desenvolvimento de Gênero, divulgado em 2019 pelo Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), as mulheres no Brasil estudam mais, cerca de 8,1 anos estudo, contra 7,6 anos dos homens, entretanto elas têm renda até 41,5% menor do que eles.
Para Martins existe uma tendência crescente para as mulheres investirem mais na sua formação, mais até do que os homens. Isso melhora sua qualificação, fazendo com que busquem outros tipos de oportunidades de trabalho. “E aqui surge a questão; até que ponto compensa as mulheres exercerem cargos na área operacional ganhando menos do que os seus colegas?”, indaga antropóloga.
Com base na pesquisa, o SETCESP criou um grupo de trabalhos com os responsáveis pela área de RH de várias transportadoras, a fim de traçar estratégias para começar a reverter este quadro.
Confira mais informações em: vezevoz.org
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