As aguardadas eleições de 2020: em tempos de pandemia
Compartilhe

*Por Antonio Luiz Leite

O segundo semestre de 2020 será o primeiro grande teste para entender o que pode estar a caminho em 2022. Milhares de municípios irão definir seus prefeitos e vereadores, e os resultados – em especial nas capitais e outras grandes cidades – demonstrarão como estão as crenças e humores dos eleitores.

As últimas pesquisas de opinião (em julho) insinuam que a situação de Jair Bolsonaro na Presidência da República está tranquila, e que as idas e vindas na área de combate à pandemia não resultaram em desgaste relevante.

Por ora e em teoria, ele continua sendo um grande puxador de votos como foi nas últimas eleições, quando muitos candidatos a governador e a senador, se pudessem, teriam alterado seus sobrenomes para Bolsonaro.           

A ELEIÇÃO NA CIDADE DE SÃO PAULO

Até o momento, mais de 13 candidatos foram definidos em convenções partidárias, a começar por Bruno Covas (PSDB), atual prefeito, que tenta a reeleição e é o candidato do partido do governador João Dória. Além dele, já estão em campanha o ex-governador Márcio França (PSB), Celso Russomano (Republicanos), Jilmar Tatto (PT), Joice Hasselmann (PSL), Andrea Matarazzo (PSD), Guilherme Boulos (PSOL) e Orlando Silva (PC do B), entre outros.

Esta enxurrada de candidaturas se repete nas principais capitais. Um dos motivos é o fim das coligações proporcionais, ou seja, não dá mais para lançar dezenas de candidatos de vários partidos ligado ao nome de um candidato a prefeito forte.  Pode haver acordo entre as legendas, mas os votos a vereador são apenas do partido que os obteve. Sendo assim, para a Câmara Municipal, a guerra será mais dura do que em anos anteriores. Outro aspecto é a esperança de que a transferência de votos que aconteceu em 2018, com candidatos aos governos estaduais, ao senado e à câmara federal volte a acontecer na esfera local, sendo assim, que os padrinhos voltem a eleger até mesmo novatos desconhecidos.  

As primeiras pesquisas, antes mesmo das convenções, já mostravam o atual prefeito sempre embolado na liderança, ora em empate técnico com Celso Russomano, do Republicanos, apoiado principalmente pelo PTB (e que deve ser também apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro) e ora com Márcio França. Enfim, é muito provável que tenhamos um segundo turno em São Paulo.

Na largada da campanha na capital paulista temos o seguinte cenário de acordo com a primeira pesquisa feita após a confirmação dos candidatos:

  • Celso Russomanno – 24%
  • Bruno Covas – 18%
  • Guilherme Boulos – 8%
  • Márcio França – 6%
  • E os outros entre – 1% e 2%

Pesquisa realizada pelo Ibope (Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística), entre os dias 15 e 17 de setembro, divulgada no dia 20 deste mesmo mês, pelo Jornal O Estado de S. Paulo.

Todos esses possíveis candidatos terão que se adaptar à nova forma de se fazer campanha. O tradicional corpo a corpo do candidato, os comícios e as carreatas não serão mais os mesmos. Os novos tempos demandam a necessidade de se manter o distanciamento social, que afasta os eleitores do contato físico com seus candidatos. Portanto, será ainda mais relevante a propaganda eleitoral realizada pela internet. Essa forma já não é uma novidade. Eleições nacionais e internacionais já vêm se definindo com base em forte apoio dessa forma de propaganda. Ainda assim, não é tão comum como terá de ser daqui para frente.

Tudo isso significa que os candidatos a prefeitos e a vereadores terão de ser versáteis. O eleitor deverá ser atingido de outra forma. Assim como artistas musicais, economistas, professores, filósofos e toda a sorte de formadores de opinião da modernidade têm feito uso de mídia digital para apresentar seus trabalhos e pontos de vista, o candidato terá que fazer o mesmo por meio de lives e vídeos em rede sociais. Vídeos frios, genéricos e mecânicos não convencerão.

A criatividade será a força motriz dessa “eleição digital”. O candidato, por meio da via digital, terá que ser tão assertivo quanto era quando visitava os bairros e passeava por suas ruas conversando com líderes comunitários, donas de casas e demais cidadãos que pertencem ao local.

As propostas devem atender às necessidades reais e atuais da população local. Ideias batidas, repetidas, sem considerar o que o mundo está vivenciando não serão aceitas e tenderão a levar o proponente à derrota. Os cidadãos municipais precisam de políticas que se coadunam e melhorem suas vidas. E isso inclui condições de sobrevivência, pessoal e profissional, em tempos de pandemia. O candidato terá que avaliar as reais condições da sociedade local e oferecer formas de convívio e de trabalho locais com segurança e saúde e bem-estar.

Nesse ambiente de renovação eleitoral, incluem-se as propostas para o setor de transportes. A pandemia afetou a mobilidade urbana de todas as cidades, desde as menos habitadas até as que contam com maior densidade demográfica. O transporte de passageiros sofreu severa redução de público, em função do distanciamento social e da adoção de outras práticas de trabalho, tais como o home office e o tele trabalho, o setor de logística ligado ao transporte de mercadorias e cargas também foi impactado, todavia, é fato que novas oportunidades surgiram para este segmento específico, haja vista que a população passou a consumir de outra forma, deixando de ir ao estabelecimento comercial, para fazer compras por meio de aplicativos, com entrega em domicílio.

Aquele que resistia a essa modalidade de compras (o comércio eletrônico também não é novidade) aderiu forçosamente à alternativa e se convenceu, ao final, das facilidades e das vantagens de se comprar sem sair de casa.

Para isso, não se iluda, a logística de transporte é fundamental, da mesma forma que também são as políticas locais de transporte que estabelecem parâmetros à execução desses serviços. A política municipal bem estruturada em normas de trânsito locais contribui para que esse setor continue a propagar a execução de seus serviços de forma eficiente. Eis mais um desafio atinente às eleições municipais de 2020. No ponto, ao eleitor, cabe se conscientizar e fazer a escolha do candidato mais bem preparado e com as propostas mais adequadas aos tempos atuais.

                                               O TESTE DOS GOVERNADORES

Os governadores de São Paulo e Minas Gerais terão um duro teste nestas eleições. Importante lembrar que todos eles chegaram ao poder adotando estratégias de aproximação com Bolsonaro. Agora, terão que mostrar a quantas anda o próprio peso eleitoral para transferir votos aos seus candidatos.

Será um bom teste de viabilidade para aqueles que ambicionam a presidência. 

Quando estiverem escolhendo seus candidatos a vereador e a prefeito este ano, os eleitores estarão, com certeza, e talvez mais do que nunca, sinalizando o que estão propensos a fazer nas urnas em 2022.  

“A pátria brasileira é de homens e mulheres de valor”

*Antonio Luiz Leite é vice-presidente do SETCESP.


voltar