1º Fórum de Mulheres na Fenatran tem sucesso de público e demonstra o crescente engajamento no setor pela equidade de gênero
Um sucesso de público e de conteúdo. Centenas de pessoas acompanharam os temas levantados por mulheres que estão na liderança do transporte rodoviário de cargas durante o 1º Fórum de Mulheres na Fenatran, no dia 11 de novembro. Teve quem acompanhasse os temas discutidos de fora na arena, já que mesmo antes do início do evento, a plateia estava lotada.
Suzana Soncin, CEO da I9 Experience, conduziu a programação e chamou ao palco mulheres que além de líderes são referência no setor, para contar suas trajetórias e o que as organizações em que atuam estão realizando para mitigar a desigualdade de gênero.
A vice-presidente da IC Transportes, Fernanda Sarreta, detalhou a atuação do movimento Rota Feminina. Assim também, Ana Jarrouge, idealizadora do movimento Vez & Voz e presidente executiva do SETCESP, apresentou o Vez & Voz e falou dos objetivos do movimento, que conta hoje com o apoio de diversas entidades de todo Brasil.
Já Priscila Rocha, supervisora de sustentabilidade da VWCO, lembrou que as mulheres são a maior parte da população (cerca de 52%), mas que este número não se reflete na política, nas empresas e nas melhores universidades.
Ebru Semizer, gerente sênior de marketing da Mercedes-Benz, destacou que o assunto é global, e que o movimento “A Voz Delas” foi criado pela montadora, justamente para ouvir o que as mulheres das estradas, especialmente as motoristas e cristais, têm a dizer. Desde então a Mercedes-Benz vem identificando e suprindo algumas de suas necessidades de infraestrutura através do movimento.
Após a primeira rodada de apresentações, Jarrouge assumiu a mediação do primeiro painel, e reforçou a importância de uma força tarefa para encorajar as mulheres do TRC e apontou a escassez de talentos femininos, principalmente, na alta liderança e em cargos operacionais das transportadoras.
Enquanto isso, Joyce Bessa falou sobre a falta de infraestrutura para mulheres dentro das empresas no setor, trazendo dados de uma pesquisa a qual constatou que 25% das transportadoras não possuem banheiros e vestiários femininos em suas áreas de operação. “Se você é empresário e quer mais mulheres na sua organização, você tem que promover uma adequação da estrutura para colocá-las em condição de equidade”, apontou ela.
Único homem presente no painel, Roberto Leoncini, vice-presidente de vendas e marketing da Mercedes-Benz do Brasil, concordou com Bessa acrescentando que faz parte da cultura de diversidade e inclusão, não somente abrir as portas, mas criar todo ambiente para que as mulheres possam permanecer no setor.
Depois, aconteceu na arena uma dinâmica com Fábio Correa, fundador da Coffee Talks, que dividiu a plateia em grupos, nos quais cada uma das equipes desenvolveu uma análise de SWOT (técnica utilizada para identificar forças, fraquezas, oportunidades e ameaças relacionadas aos negócios) por meio da qual, os participantes levantaram ideias de como atrair motoristas profissionais mulheres para o setor de passageiros e de cargas.
“Eu acredito muito nestas mudanças que estão vindo, com certeza é um caminho sem volta. Parabenizo a todos envolvidos nestes movimentos. É motivo de muita gratidão acompanhar e fazer parte”, revelou Marina Lima, CEO da Terra Nova Logística, que diz ainda estar mais orgulhosa em ser uma empreendedora no setor.
Para finalizar com chave de ouro, Edna Vasselo Goldoni, presidente e fundadora do IVG e empreendedora social, realizou a palestra magna sobre empoderamento feminino e sororidade aproveitando para convidar quem acompanhava o evento a ser um(a) protagonista de sua própria história.
“Vocês têm o poder de inspirar outras pessoas. Não deixe se levar pelas crenças limitantes, nem tudo é sobre perfeição, na maioria das vezes é sobre propósito”, incentivou a palestrante.
Ganhadora três vezes do prêmio Top Of Mind de RH, Goldoni contou histórias sobre sua trajetória de vida, falou que usou como impulso muitas frustrações para atingir suas realizações pessoais e profissionais.
Ela lembrou que a pérola, costuma ser um grão de areia que entra na concha e provoca uma irritação; como resposta ao desconforto, a pérola libera o nácar (um revestimento) que envolve o grão e vai produzindo uma das mais belas joias que conhecemos. A palestrante comparou o fenômeno à resiliência da mulher.
“Mulheres, a partir de hoje vocês só irão olhar para baixo quando for para estender a mão a uma outra mulher, que está avançando na subida na escada da vida. O sentimento de sororidade nos une e não abaixaremos a cabeça para nada”, motivou.
Vez & Voz na Fenatran
Durante todos os dias da Fenatran, de 07 a 11 de novembro, o Vez & Voz esteve com um espaço localizado junto ao estande da entidade apoiadora NTC&Logística. Mais de 2 mil pessoas estiveram por lá, para conhecer o movimento e suas ações em valorização das mulheres do TRC.
Entre elas, Priscila Zanette, CEO na Ouro Negro Transportes, uma das empresas signatárias do movimento. “Fiquei encantada com o que vi. Temos sim que incluir as mulheres em todos os departamentos de nossas empresas, desde o alto escalão até a parte operacional. Isso é fundamental para enriquecer mais o nosso setor, principalmente tendo em vista a diversidade”, diz ela.
Quem visitou o espaço também pôde participar de uma campanha do movimento pelas redes sociais, em que o interessado podia seguir o movimento no Instagram, tirar uma foto no estande e marcar o perfil do Vez & Voz, em troca disso, recebia um delicioso sorvete. O resultado foi um crescimento de 333% na conta oficial do Vez & Voz na rede social.
Como nasceu o Movimento
Criado em 2020, ano em que o país foi atingido em cheio pela pandemia de Covid-19, o Movimento Vez & Voz, surgiu como uma iniciativa do SETCESP para valorizar as mulheres que trabalham no setor, fomentar o crescimento profissional delas e atrair mais talentos femininos para o transporte rodoviário de cargas.
Sua necessidade foi reforçada a partir de um levantamento com mais de 600 pessoas pesquisadas, no qual ficou evidente que há menos profissionais mulheres no setor, e que elas estão concentradas nos departamentos administrativos das transportadoras.
Quando o movimento foi lançado, Ana Jarrouge relata que houve uma certa dúvida em saber se haveria aderência, ou não. “Porque não estávamos falando de um produto ou serviço, e sim de uma causa do bem em comum”.
Segundo ela, houve uma preocupação para que o movimento não parecesse impositivo e sim, algo que veio contribuir com o setor. “A ideia foi a gente levantar a questão de que é preciso ter um estímulo para atrair e manter talentos femininos em nossas organizações de forma sutil”.
A causa pela equidade também foi abraçada considerando suas experiências pessoais: “surgiu de muita coisa que eu vivo no transporte. Almoço de negócios, palestras e apresentações em que só há eu de mulher. Não quero ficar sozinha, quero que as mulheres tenham as mesmas oportunidades, e ocupem seus espaços de fala”.
Agora, que o movimento conta com cada vez mais adesão, afinal já são mais de 30 signatários entre empresas e entidades, ela fala que a responsabilidade e o compromisso só aumentaram. “Percebemos a vontade genuína daqueles que nos apoiam em dar passos largos junto com a gente”.
E faz planos de ações consistentes para um futuro próximo. “Precisamos conectar mais as empresas que estão dispostas a abrirem vagas para contratar mulheres das candidatas que querem esses cargos. Temos que fazer essa ponte da oferta e da demanda”.
“Hoje já está mais do que provado, que desde a gestão até a operação, a mulher tem um cuidado maior com seus equipamentos de trabalho. Também, tem um olhar atencioso, um instinto de proteção”, observa o presidente do Conselho Superior e de Administração do SETCESP, Adriano Depentor.
Ele chama atenção que em posições de governança a participação da mulher é muito baixa, sobretudo em conselhos e diretorias. “A gente tem que pensar que vivemos uma transformação social e econômica em que as prioridades mudaram. Passou da hora de os profissionais não serem mais escolhidos pelo gênero, e sim, pela capacidade e competência”.
De acordo com o Ministério da Economia, as mulheres detêm 42,4% das funções de gerência, 27,3% de superintendência e 13,9% de diretoria. Já o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) aponta que somente 7,2% dos membros dos conselhos são mulheres. Ou seja, quanto mais alto o nível dentro de uma companhia, menos elas estão presentes, mesmo tendo se dedicado mais aos estudos.
A promoção da igualdade de oportunidade entre gêneros, além do lado social, tem impacto na economia. Segundo o Banco Europeu, proporcionar às mulheres oportunidades iguais de trabalho pode gerar US$ 165 trilhões em riqueza com o melhor uso da habilidade humana.
“Queremos encorajar as mulheres com esse movimento, para que se sintam incentivadas a ocuparem funções que não imaginavam antes serem capazes. Temos um papel como entidade de fomentar isso nas empresas, para que elas avancem mais”, reconheceu Jarrouge.
A Comissão técnica
“A mão de obra no setor está cada vez mais escassa. Então, porque não trazer mais mulheres para que se tenha mais diversidade?”, indaga Gislaine Zorzin, diretora administrativa da Zorzin Logística e vice-coordenadora da Comissão do Vez & Voz no SETCESP, “precisamos atrair perspectivas diferentes para ampliar as possibilidades dentro do setor”, argumentou ela.
Para colocar as ações do movimento em prática e desenvolver conteúdos que vão direcionar as empresas a ampliarem a participação de mulheres em seus quadros profissionais, em abril deste ano, foi criada dentro da entidade uma comissão técnica do movimento.
Coordenada por Camila Florencio, que também é responsável pelo departamento de Comunicação do SETCESP, a comissão realiza reuniões online todos os meses e tem a presença de representantes das entidades e de empresas signatárias do movimento. “É um momento em que a gente discute tanto as ações direcionadas, quanto o planejamento e as temáticas para serem colocadas em prática”, explica ela.
Florencio também informa que as reuniões têm a participação de homens e que são convidados diversos palestrantes, que geralmente discorrem sobre os aspectos do desenvolvimento pessoal e profissional. Os temas tratados permeiam o universo das empresas, que de uma forma ou de outra, impactam a vida da mulher. Muitos deles, repercutem na seção Vez & Voz da revista SETCESP.
A partir desta comissão foram produzidos dois materiais de referência para balizar e ampliar as boas práticas nas empresas. Um deles é o Guia que apresenta iniciativas já implementadas por organizações, que as levaram a alcançar bons resultados em suas políticas de gestão para atração, retenção e desenvolvimento de talentos femininos.
O outro é uma pesquisa feita pelo IPTC (Instituto Paulista do Transporte de Carga) que pretende mensurar o panorama atual e sinalizar os pontos que mais carecem de mudanças construindo um Índice de Equidade do Transporte. Ao final deste levantamento, as empresas respondentes receberão um relatório individual, com o comparativo entre os seus próprios resultados e os do setor.
“O Guia traz ideias e insights do que pode ser feito, enquanto o Índice é uma forma de registramos como está o nosso setor hoje, para assim identificarmos onde precisamos melhorar, e no futuro, perceber o quanto avançamos”, esclarece otimista a coordenadora.
“Como movimento, queremos promover equidade. Um dos meios para isso é conscientizar as transportadoras para que pensem em investimentos com a finalidade de elevar a formação profissional das mulheres. Quanto mais capacitação para elas, mais teremos mulheres contribuindo para o crescimento das empresas”, conclui Zorzin.
Neste momento, para que a empresa ou entidade se torne uma signatária do Vez & Voz, não há custos envolvidos, basta apenas que assine um termo de parceria institucional, no qual a organização se compromete a divulgar os conteúdos produzidos pelo movimento, e em troca tem acesso aos materiais e pode participar das reuniões. Contribuindo assim, com a comissão e fazendo um benchmarking com outras organizações que apoiam o Vez & Voz.
Programa Emprega + Mulheres: ações do governo para ampliar a participação delas
Em uma das conferências do G20, algumas metas foram determinadas para que, até 2025, a desigualdade de gênero nas maiores economias do mundo diminua. Essa mudança poderá gerar um crescimento em milhões para a economia mundial. O Brasil se comprometeu a reduzir a diferença em 25% até lá.
Com essa finalidade, o Governo Federal vem adotando novas medidas, e recentemente publicou a Lei nº14.457/2022 que instituiu o Programa Emprega + Mulheres, que tem como objetivo principal a inserção e a manutenção de trabalhadoras no mercado de trabalho com a implementação de medidas sociais.
Em resumo o Emprega + Mulheres traz um conjunto de medidas, que flexibilizam o regime de trabalho em apoio à parentalidade na primeira infância. Por meio dele, o empregador confere uma prioridade às empregadas e os empregados com filho, enteado ou criança sob guarda judicial com até 6 anos de idade ou pessoa sob guarda judicial com deficiência, sem limite de idade.
Para detalhar melhor o Programa Emprega + Mulheres, ouvimos o assessor jurídico do SETCESP, Dr. Narciso Figueirôa Junior, que esclareceu alguns pontos principais da nova Lei. Entre as medidas previstas pelo programa destacam-se:
- A adoção do regime em tempo parcial (aquele que o empregado tem a possibilidade de trabalhar 25h semanais);
- A adoção do regime especial do banco de horas;
- A adoção da jornada 12h x 36h;
- A possibilidade de antecipar as férias individuais; e
- Horário de entrada e saída flexíveis.
“Essas são as normas que a Lei possibilita. Embora a aplicação delas dependa da vontade, tanto do empregador quanto dos empregados, em aderir” lembrou Figueirôa.
O especialista reforçou que a aceitação das empresas é facultativa contudo, o programa cria um Selo de reconhecimento de boas práticas para as empresas que se comprometem em promover a empregabilidade das mulheres. “Algo que é bastante interessante para as organizações”, apontou ele.
Também existem na Lei medidas de incentivo à qualificação de mulheres visando possibilitar ascensão profissional delas em áreas estratégicas e a flexibilização de trabalho, para que possam ter mais facilidade em buscar tal aprendizagem.
O Emprega + Mulheres, que teve origem na Medida Provisória nº 1.116, traz ainda um capítulo dedicado a adoção pelos empregadores de medidas de prevenção e de combate ao assédio sexual e a outras formas de violência no ambiente de trabalho, inclusive, se utilizando para isso da Cipa (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes). “Esta é a única medida obrigatória prevista na Lei, com prazo de 180 dias, a partir da publicação, para entrar em vigor”, adverte Figueirôa.
A nova Lei alterou também pontos do Programa Empresa Cidadã (Lei nº 11.770/2008) e passou a permitir a prorrogação da licença maternidade. Outra mudança é que a empresa participante do Programa Empresa Cidadã fica autorizada a substituir o período de prorrogação da licença-maternidade por 60 dias, pela redução de jornada de trabalho em 50% pelo período de 120 dias.
Mais uma alteração trazida pela Lei nº 14.457/2022 que chama atenção é o apoio no retorno ao trabalho após a licença maternidade. “Pela primeira vez, uma legislação demonstrou preocupação com o regresso ao trabalho após a maternidade. Infelizmente, vemos muitos casos que quando a mulher volta da licença, acaba sendo desligada”, lamenta o assessor.
Se ainda não é, sua empresa também pode ser uma signatária do Vez & Voz. Clique aqui, entre em contato e saiba como.
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