*Por Fernando Zingler
O e-commerce atingiu um novo patamar de popularidade nos últimos meses, muito por conta também da pandemia de Covid-19 e as medidas de isolamento social. Essa mudança veio para ficar, e com ela um novo estágio da cadeia de suprimentos que opera o mercado e as entregas está surgindo. E assim, criando oportunidades para as empresas de transporte, e desafios para a gestão municipal.
Nesse momento, é importante entender os efeitos desse crescimento e os impactos nos grandes municípios, para que sejam desenvolvidas políticas públicas efetivas e direcionadas para esta atividade.
O aumento do número de entregas em locais residenciais cria a preocupação de que o número de veículos de carga cresça dentro dos municípios, principalmente, em locais não planejados para este tipo de tráfego, aumentando também os índices de congestionamento e poluição nestas áreas.
Porém, há indícios de que o crescimento das taxas de e-commerce possa ser um aliado da mobilidade urbana, ainda mais, em cidades onde o meio de transporte particular predominante é o carro, como no caso de São Paulo.
A substituição de diversas viagens individuais realizadas por veículos particulares (automóveis) para se efetuar uma compra, e que são substituídas por um único veículo de carga realizando todas essas entregas pode ocasionar ganhos para o tráfego e mobilidade das cidades.
Em outros termos, os consumidores estão deixando de se deslocar até as lojas, diminuindo o número de veículos em circulação sem deixarem de comprar. Ganha o município, ganham os residentes e ganha o setor de transportes.
No entanto, é fundamental lembrar que a cadeia de abastecimento do e-commerce ainda segue modelos muito variados, e que estão em constante evolução, e nem sempre essa substituição de viagens particulares por uma logística mais eficiente acaba ocorrendo. Em alguns casos, a terceirização de serviços acaba por criar novas interrupções no transporte do produto, – de sua produção até o consumidor, fazendo com que este chegue a percorrer um caminho maior e mais fragmentado, aumentando a circulação dele pela cidade até chegar em seu destino.
Atualmente, tecnologias como aplicativos e a micromobilidade podem tanto auxiliar como atrapalhar o sucesso das cadeias de e-commerce, e, portanto, é necessário se planejar e dar o direcionamento adequado para que não hajam perdas no transporte com etapas excessivamente complicadas e custosas.
Também devem ser desenvolvidas políticas públicas que contemplem esses cenários. Quem coordena esta cadeia, como todas outras, é o consumidor final, e sua localização geográfica e seus padrões de consumo. Por isso, eles devem ser incluídos neste planejamento, para que assim se adaptem à nova realidade.
Pontos centralizados de entrega, como lockers e armários inteligentes, já são uma realidade em diversos locais que vem facilitando o serviço destas entregas, nos quais os compradores podem retirar seus produtos de forma conveniente, ao mesmo tempo que auxiliam a consolidação das entregas em um único ponto. Já existem políticas públicas propondo a construção de centrais de distribuição em edifícios comerciais e residenciais acima de um determinado tamanho, de forma a facilitar as entregas àquele local.
Outro ponto de atenção é a produção de lixo reciclável oriundo das embalagens dos produtos entregues, que também se configuram como um desafio em algumas metrópoles, especialmente porque muitas entregas são realizadas em caixas volumosas e de difícil logística reversa. Isso exige a criação de novos centros de reciclagem em pontos estratégicos, e até rotas de coleta de lixo mais otimizadas.
É necessário pensar em todas as alterações de infraestrutura decorrentes do aumento do comércio eletrônico. Além da preocupação em relação à utilização das vias públicas para veículos não projetados a elas, existe ainda o surgimento de miniterminais, nos quais as cargas são armazenadas visando a redistribuição de produtos para as suas entregas finais.
Este modelo, embora muito benéfico para grandes municípios, exige um cuidado específico na sua implementação para não ocasionar problemas em seu entorno, como aumento de tráfego, poluição sonora, e especulação imobiliária na região, dentre outros. Isso reflete também para as lojas físicas e shopping centers, que vem migrando para um novo formato de comércio e adaptando suas atividades, funcionando como showrooms, hubs de distribuição, e centros com menor volume de estoque, impactando e criando novas demandas de transporte.
Diante disso, é fundamental que sejam desenvolvidos planos e políticas públicas direcionadas para o e-commerce, de modo que não limite sua cadeia de funcionar, e também não extrapole as margens de crescimento de tráfego que a cidade comporta.
A cooperação entre os setores é fundamental tanto para que sejam desenvolvidas diretrizes eficazes para a sustentabilidade do negócio como para montar uma rede de informações e canais confiáveis para a discussão de medidas a serem adotadas.
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