Condutas de abuso moral e sexual no ambiente de trabalho
Não precisa ir muito longe para encontrar alguém que já foi vítima de assédio. Isso porque, pesquisas apontam que uma em cada três mulheres sofreu esse tipo de crime.
Um estudo realizado pelo Instituto Patrícia Galvão, mostra que 40% das mulheres dizem que já foram xingadas ou ouviram gritos no ambiente de trabalho, contra 13% dos homens. A pesquisa foi feita online com homens e mulheres de todo o Brasil, maiores de 18 anos. Ao todo foram 1.500 entrevistas realizadas de 7 a 20 de outubro de 2020.
Mas o que é o assédio?
‘Você é muito burra!’ ‘Quando vai aprender a fazer alguma coisa direito?’ ‘Não é possível que seja tão ignorante!’ – Estas são algumas frases das quais as vítimas que sofrem assédio moral no ambiente trabalho costumam ouvir, segundo Suzana Tolfo, professora do departamento de Psicologia da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) e coordenadora de Seminários Catarinenses de Prevenção ao Assédio Moral no Trabalho.
“O assédio começa de forma sutil, com piadas, apelidos, umas brincadeiras de mau gosto e vai se tornando mais forte, com gritos, ameaças e até mesmo, com investidas sexuais”, disse Tolfo.
O assédio moral é um atentado à dignidade da pessoa, praticado de forma reiterada, no local de trabalho ou em decorrência do mesmo, constituído por palavras, comportamentos e atitudes.
Falando mais precisamente do assédio sexual, a Juíza no Tribunal Regional do Trabalho – TRT da 2ª Região, Tatiana Maranesi, descreve o que caracteriza esse crime: “o assédio sexual é uma conduta, seja com gestos, propostas ou mensagens de natureza sexual, que constrange e ofende a dignidade e a honra”, informou.
A magistrada contou que no trabalho o assédio se qualifica como chantagem ou na forma de intimidação, e pode ocorrer de modo vertical, quando entre chefe e subordinado ou horizontal, quando se dá entre pares – colegas de trabalho. O crime de assédio sexual é tipificado no Código Penal Brasileiro pelo artigo 216-A.
Durante um dos encontros do movimento Vez & Voz, a juíza revelou algo que a maioria das participantes já suspeitavam: “nos nove anos em que trabalho na 1ª Vara do TRT eu vi apenas um caso de assédio sofrido por um homem, a imensa maioria são todas vítimas mulheres”.
Elas precisam, elas se ajudam
O choro frequente, a vontade de não querer mais ir trabalhar e o estresse podem ser os indícios de quem está sofrendo assédio. Outros sintomas podem aparecer como dores de cabeça frequentes, pressão alta, dores estomacais, depressão e a síndrome de burnout – que é um distúrbio psíquico causado pela exaustão extrema, relacionada ao trabalho.
Por essa razão, Tolfo adverte que os colegas de trabalho prestem atenção uns nos outros, e quem tem vivenciado esses traumas procure por redes de apoio e pelo Ministério Público dos Estados. “Suporte social é extremamente importante para essas vítimas. É um conjunto de cada pingo de água no balde que leva ao transbordamento. Importante não deixar chegar ao limite e procurar por ajuda antes”, afirma a professora.
Não à toa as mulheres têm se unido em torno dessa causa para combater esse tipo de crime. Prova disso é o Vez & Voz, movimento de apoio às mulheres do TRC, que vem nos últimos meses ampliando o debate sobre o tema para que o conhecimento seja mais uma arma de combate ao crime de assédio.
“Só haverá diminuição do assédio se houver mais denúncias, e para haver denúncias também é preciso que haja sororidade entre nós mulheres, o apoio de uma para com a outra é fundamental”, conclui Maranesi.
Para finalizar, ambas as especialistas destacaram que é necessário lembrar que a culpa nunca é da vítima, o crime é, e sempre será, de responsabilidade do agressor.
Já conhece o Vez &Voz? Clique aqui e saiba mais sobre este movimento.
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