O panorama do TRC em 2022 e as expectativas para 2023
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Sondagem Econômica do setor de transporte rodoviário de cargas

Não dá para dirigir um caminhão olhando apenas para o retrovisor, no entanto, não o utilizar também pode causar grandes problemas. Se tratando do setor de transportes rodoviário de cargas a dinâmica é a mesma. É necessário estar sempre atento ao que está por vir, sem se esquecer de verificar e aprender com aquilo que ficou para trás. Veja como foi para o setor o ano que passou e saiba o que esperar de 2023.

 

O panorama do TRC em 2022 e as expectativas para 2023

A pedido do SETCESP, o IPTC (Instituto Paulista do Transporte de Carga) realizou uma pesquisa entre novembro do ano passado e janeiro deste ano, para avaliar o desempenho econômico do setor de transporte rodoviário de cargas em 2022, bem como as perspectivas para 2023.

Aproximadamente 100 empresas responderam a perguntas que revelam o nível de confiança para investimentos, o reflexo das crises externas nos negócios e o sentimento com a política econômica nacional.

As questões foram elaboradas considerando as principais informações econômicas e os balanços de resultados das empresas, além de uma série de tópicos que estão atualmente em discussão, e que podem afetar as operações das transportadoras a curto e médio prazo.

Um Raio X das empresas

Juntas, as pesquisadas têm 9.770 veículos próprios na frota, contam com 12.735 veículos terceirizados e geram mais de 40 mil postos de trabalho. Mais precisamente, 20.492 empregos diretos e 21.930 empregos indiretos.

Essa proporção bem próxima demonstra que as empresas têm optado não só pela terceirização da frota, mas também a da mão de obra, talvez como sendo essa uma alternativa devido às incertezas da demanda.

Sem contar que, do total de postos de trabalho ofertados por essas empresas, 42% deles são de motoristas, que representam em números absolutos 17.928 colaboradores.

Outro dado interessante é que a idade média da frota das empresas respondentes é de 6,4 anos, o que está abaixo da média nacional do RNTRC (Registro Nacional de Transportadores Rodoviários de Cargas), que é de 10,96 anos. Os veículos das empresas que operam no transporte interestadual são os com menor idade média, totalizando apenas 6,07 anos.

Os entrevistados apresentaram uma divisão equilibrada entre as opções de regime de tributação disponíveis em nosso país. Cerca de 25% das transportadoras são optantes pelo Simples Nacional e empatados, com 37% cada, estão o lucro presumido e o lucro real.

Isso foi uma descoberta interessante apontada pelo relatório, porque geralmente, no TRC a opção pelo lucro presumido é a mais comum depois do Simples Nacional, por conta da facilidade de sua base de cálculo que é de 8% sobre a receita bruta.

Foco nos resultados

Como todo indicador, os resultados operacionais são estratégicos para a organização, a fim de medir o desempenho com o objetivo de reduzir custos. No caso do transporte está ligado também diretamente a qualidade do serviço prestado.

Alguns índices apresentaram variações não tão positivas nesta pesquisa (2022/2023), a qual observou que o volume transportado teve um aumento reduzido em relação à pesquisa do ano anterior, o índice ficou em 13%. No comparativo divulgado o ano passado, havia sido registrado um aumento de 21%. Enquanto isso, o aumento da ociosidade média da frota recém registrado ficou em 9%.

Mesmo assim, das empresas pesquisadas, 81% delas apresentaram faturamento positivo no ano passado, sendo que 56% operaram com lucro, em que o aumento médio do faturamento foi de cerca de 16%.

Apesar disso, os analistas ainda aguardam do setor uma retomada nos moldes anteriores à pandemia em termos de produtividade e aproveitamento.  “Mesmo com um lucro ponderado positivo, acreditamos que para isso as empresas diversificaram seu mercado e área de atuação, bem como apertaram os cintos para equilibrar as contas e ainda fechar o ano no azul”, afirmam os analistas do estudo.

A economista do IPTC, Raquel Serini, reforça que embora tenha ocorrido um aumento no volume transportado, não foi possível chegar aos patamares de 2019-2020. “A gente não conseguiu avançar para além daquilo que era antes da pandemia”, considera.

Reajustes do Frete x Custo

O levantamento indicou um ponto de alerta revelando que 10% das empresas declararam não ter aplicado nenhum repasse de frete aos seus clientes no ano passado. Sendo que, só 14% delas conseguiram repassar a inflação, se comparado aos resultados do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Ampliado), por exemplo, que foi de 5,78% de janeiro a dezembro/2022.

Além disso, 2% informaram ter concedido descontos nos contratos já vigentes, o que gera uma preocupação diante da saúde financeira dos negócios.

Simultaneamente, o estudo traçou um panorama dos custos operacionais das empresas, e constatou que estes aumentaram para 82% das pesquisadas, se mantiveram estáveis para 15% e reduziram para uma pequena parcela que reúne 2% da amostra.

O aumento dos custos está diretamente relacionado à elevação de preços dos principais insumos, além de fatores externos e de políticas públicas envolvidas na atividade. Para entender melhor esta estrutura de custos, a pesquisa também perguntou aos empresários a participação dos centros de custo sobre o faturamento.

Dos centros de custos pesquisados, os que apresentaram uma parcela maior das despesas para a maioria dos entrevistados, ambos na faixa acima 30%, foram: o consumo de diesel seguido da contratação de agregados. “Lembrando que os combustíveis que chegam a representar até 50% do faturamento para algumas empresas”, alerta o relatório.

Ainda, como se não bastasse, 32% das empresas declararam ter dificuldades de comprar determinados insumos, seja por falta de oferta ou pelos altos valores de mercado.

“Definitivamente, é necessário estar a par de todo o movimento do mercado em que se está inserido, principalmente quando falamos dos custos”, adverte a análise.

Para Serini, uma das responsáveis pelo estudo, houve grande redução de custo nas organizações, para tentar fechar as contas. “Muitas empresas absorveram o custo sem conseguir fazer o repasse e isso estrangula a questão das despesas e a rentabilidade, o que prejudica a saúde financeira”, alerta.

O Diesel: um calcanhar de Aquiles

O cenário de instabilidade nos preços dos combustíveis coloca em xeque o planejamento e a sobrevivência das transportadoras. Por isso, o assunto foi tratado como um capítulo à parte no estudo abordando as variações, políticas e impactos ao longo deste último ano.

Em 2022 a Petrobras, reajustou os preços do diesel 8 vezes, (sendo 4 reduções e 4 aumentos), deixando um saldo de 34,36% de aumento nas refinarias. Elevando os custos do transporte de cargas lotação em 9,55% na média geral, sacrificando mais as operações de longas distâncias (6.000 km) chegando a marca de 13,71% de elevação.

De acordo com os dados coletados através do sistema de levantamento de preços da ANP (Agência Nacional de Petróleo) nas cinco regiões do Brasil em 2022, desde janeiro até dezembro, observa-se um aumento médio na faixa de 16,89% no valor de revenda do óleo diesel S10.

Comparando o cenário nacional, destacamos a região Norte com o maior preço médio de R$7,05 por litro, apresentando uma variação acumulada de 18,95%. Já a região Sul, teve a menor variação de preços, sendo cobrado em média R$6,57 por litro, mas ainda assim acumulando em 12 meses, uma variação de 18,5%.

Ao analisar o estado de São Paulo no mesmo período, o preço do óleo diesel S10 teve o seu auge em julho do ano passado com preço médio por litro de R$7,55 e fechando o ano com variação média de R$6,47 por litro.

Todo esse movimento fez com que a relação transportadora x cliente ficasse desgastada. Metade das pesquisadas tiveram que renegociar seus fretes entre 2 ou 3 vezes no ano. Outro percentual de 22% delas abordaram seus clientes em 2022, a fim de solicitar reajustes, mais de 3 vezes. Renegociaram com os clientes apenas uma vez no ano, como de costume, somente 27% das pesquisadas.

O mercado de frete rodoviário no Brasil não sofre nenhum tipo de controle governamental, os preços são formados a partir da negociação direta entre a oferta e a demanda, dando espaço às volatilidades.

Razão pela qual o relatório mostra que menos da metade dos entrevistados acreditam que o frete se manterá estável neste ano. Uma parcela de 25% acredita que o valor do frete irá melhorar, enquanto 27% acreditam que irá piorar. Mas a maioria, cerca de 47%, acredita que a evolução do frete se manterá estável.

Isso demonstra um cenário mais pessimista, comparado ao mesmo estudo divulgado no ano passado. Uma vez que, as empresas não têm conseguido fazer com que o frete acompanhe na mesma velocidade a escalada de preços do mercado.

“Mesmo que a economia esteja aquecida pelo agronegócio, se a indústria não estiver produzindo a todo vapor, os resultados não serão plenos para o setor de transporte. Precisa haver um equilíbrio em toda a cadeia produtiva para que a percepção de crescimento seja sentida aqui”, diz a economista, esclarecendo que o transporte é impactado por outros setores da economia.

“Em geral os empresários acham que tudo tende a ficar dentro da normalidade, não estão desesperançosos, porém não aguardam grandes avanços”, comenta Serini indicando que a questão política e global, possivelmente teve um peso maior para extrair essa concepção.

Um tanto quanto comedido

Também foi questionada a opinião dos empresários sobre as expectativas para o início de 2023, o desempenho do setor e como os acontecimentos internacionais podem afetar a atividade de transporte.

A apuração das respostas levou os analistas a afirmarem que o saldo de 2022 trouxe para esse ano um sentimento de “futuro incerto” e por isso, 2023 será um ano desafiador, no entanto foi notado que as empresas estão mais preparadas para as adversidades.

A maior parte dos empresários, tem a percepção de que este ano será dentro do esperado, um total de 37% deles. Outra parcela considerável, cerca de 33%, acredita que será pior do que esperado e 27% espera que seja melhor. Ou seja, um cenário comedido.

Investimentos

Para 2023 a projeção é de novas contratações pelo regime CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) por parte de 51% das empresas respondentes, enquanto 20% das preferem terceirizar a mão de obra, mas ainda assim, contratando profissionais para o setor. Infelizmente, 30% das empresas não pretendem ampliar o quadro de funcionários.

Uma boa notícia é que 89% das empresas pretendem investir em treinamentos e na capacitação de seus colaboradores, reservando uma fatia de 2,79% do seu faturamento para tal oportunidade.

Em termos de investimentos, a maioria das empresas pesquisadas pretendem investir em tecnologia este ano, mais que no ano passado, aproximadamente 2,65% do seu faturamento está reservado para tanto.

A busca pela redução de custos e mais segurança, profissionalizou o transporte logístico e abriu um imenso mercado para a tecnologia embarcada, sistemas de rastreamento de cargas e de gestão de frotas.

Além de manter as condições do teletrabalho e pronto atendimento online, as empresas têm se preocupado com a compra de equipamentos e sistemas que oferecem informações em tempo real, até para acompanhar as demandas do mercado.

Já com relação a modernização dos terminais as empresas de transporte perceberam que a estrutura física dos galpões não é mais tão essencial em grande escala. Os empresários do TRC, na sua maioria, cogitam não investir em terminais neste ano.


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