O congestionamento é um dos principais desafios nos grandes municípios. E a procura por uma vaga de estacionamento é dos principais fatores que ocasionam a formação de lentidões e filas nas áreas centrais de São Paulo, que chegam a se propagar até os pontos mais externos da cidade como as marginais e além.
A demanda por estacionamento público junto ao meio-fio para carga e descarga é notavelmente maior que a quantidade de vagas disponíveis nos densos bairros da capital paulista. O que já foi objeto de estudo do SETCESP no passado, e a ampliação desses espaços é defendida como bandeira pelo setor para melhorar a produtividade das entregas nas regiões centrais, onde a maioria dos estabelecimentos comerciais não contam com estruturas de docas e recuos privados para descarregamento de mercadorias. Atualmente, o município conta com 1.850 vagas para caminhões.
As vagas de estacionamento público nas ruas, principalmente para carga e descarga junto ao meio-fio, vêm competindo com outros usos do espaço como pontos de ônibus, estacionamentos de bicicletas e patinetes, pontos de táxi, pontos de entulhos de construção, “parklets” de restaurantes, além das diversas categorias de estacionamento rotativo existentes – exclusivos para idosos, deficientes e outras categorias.
Com isso, a oferta de vagas nestas regiões, que já é escassa, se torna ainda mais acirrada para a realização das atividades de transporte, fazendo com que o motorista fique exposto a situações difíceis de entrega, e sujeito, muitas vezes, às multas de infrações de trânsito para conseguir realizar as entregas nos centros comerciais.
Além disso, forma-se uma espécie de círculo vicioso: com menos vagas de caminhões disponíveis, o transportador opta por realizar as operações com veículos menores, necessitando de mais veículos para realizar a entrega, e consequentemente, aumentando a necessidade de vagas de estacionamento para essa frota.
As zonas para carga e descarga de veículos – notavelmente para caminhões do tipo VUC – são importantes para impedir bloqueios e obstrução nas vias devido à parada de caminhões. Em São Paulo, houve 7.629 autuações para caminhões referentes a estacionamento em locais proibidos entre janeiro e outubro de 2019, a maioria delas na região da Avenida Paulista, Alameda Santos e Avenida Brigadeiro Luís Antônio. Apenas nestas três vias há uma grande concentração de atividades comerciais como restaurantes, bares, mercados, além de prédios comerciais que também demandam suprimentos para suas operações, entre outras atividades do transporte de cargas.
Entretanto, na região, existem poucas vagas para atender milhares de entregas diárias que se concentram naquela área, e mesmo que alguns estabelecimentos já optem por entregas noturnas, ainda assim, a demanda por vagas de carga e descarga em horário comercial é maior do que a existente. E não podemos esquecer de que a região é uma das mais monitoradas da cidade, o que contribui para enxergarmos este problema através deste indicador de infrações, algo que não ocorre em áreas igualmente demandadas por entregas, mas sem fiscalização.
Em outros locais, como o bairro do Brás, a oferta de vagas de estacionamento existe, porém ela é mal distribuída para a atividade de carga e descarga. Fazendo com que os caminhões ocupem outras vagas rotativas, como para idosos, pessoa com deficiência física e/ou mobilidade reduzida, entre outros. Foram 2.159 infrações registradas no período considerado por parte de caminhões, sendo que a maioria se concentrou em locais como Rua Cavalheiro, Rua Xavantes e Rua Casimiro de Abreu – conhecidos polos de comércio nos quais dezenas de lojas com fachada para a rua estão instaladas e que, certamente, se beneficiariam de um sistema de vagas inteligente que garantisse a eficiência do recebimento das mercadorias em horários comerciais. Uma redistribuição de vagas na região, visando atender as necessidades do perfil de atividade econômica que existe no local, é crucial para melhorar o trânsito na região e, também, impulsionar a atividade comercial ao facilitar o acesso logístico.
Por último, existe o problema do estacionamento em fila dupla, que atrapalha muito todo o tráfego, mas vira uma opção devido à falta de pontos de parada para abastecer o comércio local. Essa prática acaba ocorrendo em todo o município, sem um perfil distinto, e pode estar relacionado a 30% do trânsito acometido em determinadas regiões.
Um simples veículo interrompendo uma via por 15 minutos pode atrasar mais de 100 veículos e causar um congestionamento de mais de 5 quarteirões, sem contar as vizinhanças que também são afetadas. Por isso, recomenda-se orientar os motoristas a nunca efetuarem esta prática, pois além de ilegal, traz muitos prejuízos para todo o município.
Diante deste cenário, o importante é sempre planejar bem as operações de transporte para evitar surpresas e gastos extras, principalmente com multas. Os centros de consolidação urbanos são uma ótima alternativa para o fracionamento das entregas e aumento da produtividade, atingindo os locais de mais difícil acesso com uso de carrinhos, bicicletas ou plataformas com rodas.
Com o aumento do e-commerce, a tecnologia veio a favor de ajudar esse processo, criando sistemas de lockers, aumentando a localização em tempo real, trazendo uma gestão inovadora e incorporando conexões intermodais para estes centros de distribuição.
Alguns países já testam até a reserva de vagas nas ruas por meio de aplicativos, após identificarem que os operadores estão dispostos a pagar por um sistema eficiente como tal, que garanta sua operação sem prejuízos ou surpresas. Estas soluções podem ajudar tanto a reduzir a necessidade de estacionamento junto ao meio fio como também a resolver o problema de congestionamento causado pelos veículos de carga.
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