Patricia Hellen da Silva é secretária de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia do estado de São Paulo. Uma das fundadoras do movimento Agora de formulação de políticas públicas, Formada em Administração de Empresas pela FEA-USP, com mestrado em Administração Pública pela Harvard Kennedy School e MBA pelo Insead. Patricia foi presidente da Optum no Brasil, empresa de tecnologia em saúde do grupo United Health. Ex-sócia da consultoria McKinsey & Company, é professora de Liderança e Inovação Digital no Mestrado em Liderança e Gestão do Centro de Liderança Pública. Foi membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social da Presidência da República. É co-fundadora do Movimento Agora e foi nomeada Jovem Líder Global pelo Fórum Econômico Mundial em 2016.
Como foi a contribuição da sua pasta na elaboração do Plano SP?
A minha pasta teve dois papéis. A pasta de Desenvolvimento Econômico integra também ciência e tecnologia, e por isso viabilizou parcerias importantes na área. O papel central do IPT (Instituto Pesquisas Tecnológicas), também da FAPESP e, no dia a dia, todo o plano de retomada, a gestão de polos de desenvolvimento econômico, programa de empregabilidade, como mutirão do emprego, programa de capacitação profissional, como o Via Rápida, o SPTEC e o Novotec. E também, a convite do governador João Doria, eu trabalhei no Gabinete de Crise de Enfrentamento ao Covid-19, justamente com a secretaria da saúde, uma série de outras secretarias, o trabalho de coordenação executiva de gestão da pandemia, nesse gabinete que ficou vinculado à secretaria de governo. Nesse trabalho, nós criamos o sistema de monitoramento inteligente, onde nós integramos ferramentas de dados para tomada de decisão em tempo real e, também, compartilhamento da informação com a população e formadores de opinião. Criamos aqui um trabalho integrado de acompanhamento através do centro de contingência de saúde, conselho econômico e outros polos que foram criados para gestão ágil e transparente da pandemia.
Há um plano de retomada do governo do estado em curso. De que maneira, este plano contempla as áreas de logística e infraestrutura?
O Plano de Retomada do Governo contempla as áreas de Logística e Infraestrutura de algumas formas. A primeira, uma das bases fundamentais do Plano, é a atuação em 14 polos de desenvolvimento econômico. O 13º polo é o polo de transportes, logísticas e armazenamento. Hoje, é um setor que engloba 740 mil empregos, mais de 90 bilhões em PIB, cerca de 4% do PIB do Estado e é o polo que abastece o Estado de São Paulo e muitos estados do País. Então, esse polo de desenvolvimento, ele é um dos polos fundamentais, tanto que o primeiro investimento relevante, que foi anunciado agora, o Retomada 21/22, anunciado na última sexta-feira (16) e já ontem, na coletiva de imprensa, o primeiro grande investimento anunciado foi nessa área, que é um investimento na nova malha paulista, um investimento de R$ 6 bilhões e que gera 134 mil empregos, dobrando a capacidade da malha paulista. Além disso, se você for ver no programa de retomada, uma base dele é a atração de investimento, e no programa nós estamos colocando o investimento, a meta de atração de investimento de cerca de R$36 bilhões, e nessa meta o setor de transporte responde mais da metade do valor do investimento. Nós temos R$ 36 bilhões de reais como meta, 19 projetos em carteira, sendo que mais da metade é exatamente no setor de transporte e mobilidades. Nós incluímos rodovias, isso quer dizer que todo investimento principal aqui do Estado, tem aqui mais de 80% de sua carteira representada pelo segmento de logística, transporte e armazenamento.
Você diria que o enfrentamento da pandemia foi até agora o seu maior desafio como gestora?
Sem dúvida. Acho que nenhum de nós imaginávamos que passaria por um desafio como esse. Acho que essa pandemia tem sido um desafio para todos, um desafio pessoal, profissional, familiar e estar onde estamos hoje no governo, tomando decisões que impactam a vida de tantas pessoas é, sem dúvida, o maior desafio que eu, pessoalmente, já enfrentei.
Tem se falado muito em gestão na política atual. Quais são as diferenças de um gestor para um político?
Eu acho que, no mundo ideal, o bom gestor precisa saber navegar no mundo político, e um bom político precisa fazer uma boa gestão pública. E a gestão pública é uma gestão que precisa ser baseada em dados e evidências, precisa ser técnica, transparente e sempre priorizando quem mais precisa, alavancando novas tecnologias, para melhorar a vida das pessoas que mais precisam, com um compromisso inegociável de combate às desigualdades estruturais e circulares que nós enfrentamos no estado de são Paulo e no Brasil.
As mulheres são a maioria dos eleitores no Brasil, mas ainda a minoria na política. Que tipo de mudanças precisamos para tentar equilibrar melhor este quadro?
São muitas mudanças. Quando a gente pensa nos cargos eletivos, a situação é bem grave. Houve um estudo publicado recentemente no G1, que menos de 1% dos municípios do Brasil têm só mulheres na disputa pela prefeitura, e o percentual aqui, apesar da legislação brasileira estabelecer, no mínimo, 30% que as candidaturas sejam preenchidas por mulheres, é sempre um desafio. Como você mesmo disse, a população feminina representa 52,5% do eleitorado, então a gente tá partindo de um número menor do que a cota justa aqui e, além disso, após as eleições, é muito difícil termos uma representatividade de mulheres acima de 20%. Isso reverbera e espelha nos quadros de liderança, quadros comissionados e cargos de liderança na gestão pública. E isso também na gestão privada, aí é outro tipo de problema que há uma ausência geral de mulheres ocupando cargos de liderança pública e privada. Esse tem sido um dos grandes pontos que eu tenho trabalhado, uma das minhas causas pessoais, eu sou mãe de gêmeas, então tenho duas meninas, venho de uma família de muitas mulheres, empreendedoras, que cuidam da família, que, além de serem mães, são quem cuidam financeiramente da família e acho que já passou da hora de nós termos uma representatividade mais equânime de mulheres, sobretudo, em cargos de liderança.
O mesmo acontece no mercado de trabalho, homens são a maioria na maior parte dos setores. Em uma pesquisa divulgada pelo Instituto Paulista do Transporte de Carga (IPTC), 66% dos colaboradores do transporte rodoviário são do sexo masculino. A senhora acredita que falta muito para o Brasil alcançar a equidade de gênero no campo profissional?
Infelizmente sim. Nós precisamos passar a aprender a enxergar, reconhecer, para poder pensar. Tem que falar mais da participação das mulheres na liderança para que, de fato, tenhamos políticas públicas e produtos e serviços mais adequados também. Se a maior parte do empresariado é feminina, a maior parte dos clientes também é feminino, e faz toda a diferente termos mulheres desenhando o serviço, as políticas públicas para o público que é, majoritariamente, feminino também.
A crise provocada pela pandemia já reduziu o número de empresas no país e aumentou o desemprego, qual é o papel do Estado para restabelecer os índices de crescimento?
Temos em vista o plano Retomada 21/22, ele traz exatamente esses elementos, no pacote de atração de investimentos internacionais, onde nós colocamos aqui a dimensão de São Paulo, que é a terceira maior economia da América Latina, concentra 3% do PIB brasileiro, maior produtor de açúcar, etanol e suco de laranja. Você mencionou a questão da logística, nós temos 19 das 20 melhores ligações rodoviárias, o maior porto e o maior aeroporto da América do Sul. Então, com tudo isso, São Paulo é um grande polo de atração de investimentos. E olha como o tema da logística acaba sendo um dos pontos centrais dessa competitividade! Eu mencionei sobre a retomada do crescimento econômico, e, no Plano de Retomada, nós colocamos aqui tanto o meio ambiente como aspecto central como políticas do Estado de São Paulo, respeitando as normas internacionais de conservação e preservação, também o enfrentamento ao Covid-19 mostra que nós fazemos uma gestão baseada em dados e evidências, e o Retomada ainda atua em outros eixos para a retomada da economia. Eu mencionei toda a parte de logística e infraestrutura, a parte de desenvolvimento econômico sustentável, além disso, o programa para melhoria de ambiente de negócios, para um maior dinamismo setorial através dos polos de desenvolvimento, compromisso com questões de desigualdade e políticas de internacionalização.
Os governos tanto estadual quanto federal, mantém uma agenda de concessões, inclusive para fomentar a economia. Mas o que é necessário para atrair e viabilizar investimentos, especialmente estrangeiros?
Nós estamos mostrando, mesmo durante o período mais desafiador da pandemia, que é possível atrair investimentos estrangeiros. Nós tivemos aqui o maior leilão rodoviário da história do Brasil, que foi a concessão do trecho PiPa, Piracicaba-Panorama, que tivemos um leilão com investidores estrangeiros e o maior ágil da história também. Essa competitividade se deu por vários motivos, mas principalmente porque São Paulo tem feito um trabalho muito sério de mostrar o seu compromisso com as práticas de governança internacional.
Quais aprendizados a senhora acredita que a pandemia deixará como legado? E na sua opinião qual o papel da mulher na liderança da transformação global neste cenário?
A pandemia deixa vários legados. O primeiro, aqui, é o trabalho em equipe integrado para a uma gestão ágil, com transparência e toda integração e compartilhamento de dados com a população, com a imprensa, para uma gestão também compartilhada no dia a dia com toda a população. A outra é o a solidariedade. Nós tivemos aqui uma mobilização da população, o Governador, pessoalmente, acompanha semanalmente o Comitê Empresarial Solidário e o Comitê Empresarial Econômico, onde nós temos mais de 400 participantes, e já consolidamos 1.2 bilhão em doações para o Estado de São Paulo. O outro ponto é como a tecnologia pode ser alavancada para combater as desigualdades. Passando para a próxima pergunta, a importância da liderança feminina nesse contexto e os aspectos da liderança feminina que estão sempre destacados quando nós olhamos a gestão que está sendo realizada, por exemplo, pela recém reeleita Jacinda Ardem, ela venceu novamente as eleições na Nova Zelândia, após ter se tornado um exemplo mundial em combate ao coronavírus, a maioria dos votos numa eleição histórica. Além dela, podemos citar a Angela Merkel, na Alemanha, a Erla Sobenger, na Noruega, a Jacobs da Isalândia. Então temos uma lista aqui bastante precisa de mulheres que têm se destacado pelo seu modelo baseado na transparência, na confiança, na compaixão, na firmeza com o compromisso da gestão técnica em respeito à ciência e na solidariedade. Então eu acho que esse modelo de gestão feminina acaba sintetizando um pouco os legados positivos da pandemia.
Qual mensagem gostaria de deixar para os empresários do setor de transporte rodoviário de cargas?
A mensagem é que esse é um setor muito estratégico e tem um papel fundamental na retomada econômica. Além disso, o setor que mostrou resiliência, profissionalismo. Nós podemos ver que o Estado de São Paulo, diferente do que acompanhamos no resto do mundo, não teve desafios na cadeia de abastecimento de produtos e serviços, não teve interrupção de fornecimento de produtos em nenhum momento, e isso se deve a eficiência dessa cadeia, que tem sido tão importante e se mostrou ainda mais fundamental durante a pandemia. E para o pós pandemia, espero continuar a ver esse trabalho de retomada, vê-los entendendo o papel estratégico do setor, de manter o compromisso com inovação tecnológica constante e, também, o trazer maior participação feminina sobretudo ocupando cargos de liderança no setor.
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