Confira o panorama do TRC em 2019 e as perspectivas para 2020
Não dá para dirigir um caminhão olhando apenas para o retrovisor, no entanto, não utilizá-lo também pode causar grandes problemas. Se tratando do setor de transportes rodoviário de cargas a dinâmica é a mesma, é necessário estar sempre atento ao que está por vir, sem se esquecer de verificar e aprender com aquilo que ficou para trás.
Veja como foi para o setor o ano que passou, e saiba o que esperar de 2020.
O mercado de transporte rodoviário de cargas, assim como outros setores econômicos, sente o reflexo das crises externas, da política econômica nacional, do nível de confiança dos investidores e das evoluções tecnológicas. Com toda essa dinâmica não dá para prever o futuro, mas é possível medir a expectativa de quem move o país: o transportador.
O SETCESP encomendou ao IPTC (Instituto Paulista do Transporte de Carga) um levantamento no qual foi traçado um diagnóstico opinativo de representantes das empresas sobre como a economia se comportou no ano que passou, e quais as perspectivas para esse que se inicia.
O IPTC coletou informações das empresas de transporte pertencentes a base territorial da entidade, que responderam a um questionário online estruturado com 26 perguntas objetivas.
“É uma pesquisa bastante completa que abrange uma diversidade de temas do setor, e se torna muito útil para traçar ações efetivas em cima de uma análise profunda do setor”, aponta Fernando Zingler, diretor executivo do IPTC e mestre em Engenharia de Transportes.
As perguntas foram elaboradas considerando as principais informações econômicas e os balanços de resultados das empresas, além de uma série de tópicos que estão atualmente em discussão, e que podem afetar as operações das transportadoras a curto e médio prazo. As repostas foram coletadas entre novembro de 2019 a janeiro de 2020.
Para Fernando, com base nos dados analisados é possível traçar um panorama de como o TRC está se desenvolvendo e quais as principais ações a serem tomadas diante dos desafios do setor.
UM 2019 RAZOÁVEL
As opiniões sobre o desempenho do setor de transporte rodoviário de cargas em 2019 ficaram bem divididas. A percepção de 39% dos participantes do estudo é que o ano ficou dentro do esperado para o setor, no entanto, quase que a mesma parcela, 38%, classificou o ano como pior do que aquilo que esperava. Mas 23% o considerou muito melhor do que aquilo que imaginava.
Uma leve melhora
Os dados da pesquisa apontaram que 84% das empresas tiveram aumento no faturamento em 2019 comparado ao ano anterior. Um aumento médio de 14% aproximadamente. Cerca de 68,1% das empresas operaram com ganhos em 2019, sendo a margem de lucro em média 4,25% maior ante a 2018.
O levantamento apontou um 2019 positivo para as empresas no repasse de frete. Apenas 16% dos entrevistados não conseguiram repassar o aumento de seus custos para os clientes, enquanto que a grande maioria repassou, ainda que parcialmente. Apenas uma parcela de 20% das empresas, ao invés de repassar o aumento, concedeu desconto no frete.
No geral, quem conseguiu repassar custos no valor do frete teve margem de lucro. Enquanto isso, o valor médio no volume de cargas transportadas foi 10% maior que no ano anterior.
Poderia ter sido melhor
Os custos operacionais das empresas aumentaram. Isso é o que acredita 71% das empresas pesquisadas. O que fez com que apesar do ganho, e com o volume de carga maior houvesse uma margem de lucro menos robusta.
Raquel Serini, economista do IPTC, lembra: “mesmo com a economia em reação diariamente as empresas sofrem para equilibrar seus centros de custo que impactam diretamente na formação de preço e nos reajustes de frete”.
Um ponto que chamou atenção no levantamento é que um terço das empresas participantes da pesquisa operaram com capacidade ociosa no ano que passou. A média de ociosidade dessas empresas ficou em 16,64%.
Este cenário reflete diretamente em caminhões parados por falta de carga ou então subtilizados nas viagens, o que diminui a produtividade, e consequentemente os resultados operacionais das transportadoras.
Dentre os fatores que limitaram o TRC em 2019 é que o setor acompanha as tendências econômicas da indústria e comércio, principalmente.
De acordo com os entrevistados o que mais restringiu o crescimento do TRC foi justamente a demanda por cargas ou serviços. Os 10% de aumento da demanda de cargas não foram o suficiente para a grande maioria das transportadoras.
Segundo os especialistas do IPTC esse quadro só deve melhorar agora em 2020, se a economia do país crescer acima do que cresceu no ano passado.
“Demanda insuficiente e custos maiores se tornaram os principais desafios das empresas no ano que se passou e é uma das principais preocupações no ano que se inicia’, indica Fernando.
Outros fatores que são sinais de alerta é o preço dos insumos, falta de veículos e equipamentos e a ausência de mão de obra qualificada, especialmente de motoristas.
No caso de uma retomada acelerada na economia do país, o setor precisa estar preparado para atender a demanda prontamente, o que é uma probabilidade para grande parte das empresas.
Quanto aos insumos, os itens que mais variaram de preço em 2019 foram os veículos (20,43%), seguros (17,87%) e o combustível (8,69%) respectivamente.
Um setor que emprega
As empresas entrevistadas somam quase 15 mil postos de serviços. Dessas 54% mostram o desejo por ampliar o número de funcionários em 2020, e para isso devem investir uma parcela 3,36% do seu faturamento em novas contratações.
Um dado revelado pelo estudo é que dentre todos os custos monitorados o que teve maior impacto para a empresa foi a folha de pagamento.
“A pesquisa apresenta que um dos itens que mais comprometem o custo é a folha de pagamento ou a contratação de terceiros/autônomos. Mais da metade das empresas informaram despender acima de 15% do faturamento somente com essas despesas de mão de obra”, frisa Raquel.
PERSPECTIVAS PARA 2020
O cenário para 2020 é bastante estável para a maior parte dos entrevistados. No geral as empresas acreditam que o valor do frete se manterá regular, e pouco mais de 1/3 dos entrevistados acredita em um cenário positivo onde o frete deve melhorar.
Falando sobre investimentos, a maioria das empresas pretende empregar capital em tecnologia, a intenção é reservar uma média 3,97% do faturamento para isso.
No segmento de distribuição urbana, o investimento é maior, chegando a representar 9,86% do faturamento, o que mostra que esta área está aberta as novas tecnologias do mercado e precisando de investimento desta natureza, para solucionar problemas de mobilidade.
Renovação da frota
Além das tecnologias, a maioria das empresas também apresentaram interesse em renovar a frota em 2020. No total, 64% das transportadoras responderam que pretendem investir até 10,55% de seu faturamento em novos veículos. Todos que tem uma frota acima de 10 anos demonstraram essa vontade.
A grande maioria prefere adquirir caminhões novos, e para isso recorrer financiamento bancário; 53% consideram a ideia de contratar um CDC – Crédito Direto ao Consumidor.
Ao analisar o conjunto das empresas, a idade média da frota de quem deseja adquirir novos veículos é de 6,47 anos.
“Muitos fatores influenciam na segurança no transito, e certamente o envelhecimento da frota é uma delas”, identifica Tayguara Helou, presidente do Conselho de Administração do SETCESP.
A idade média da frota de caminhões no País chega a 11,8 anos segundo informações do RNTRC – Registro Nacional do Transporte Rodoviário de Carga.
O presidente da entidade faz questão de destacar que existem algumas realidades no Brasil que precisam ser levadas a sério, uma delas é a insegurança nas estradas que resulta em números assustadores em relação a vítimas, especialmente fatais, “e é por isso que precisamos de um plano de renovação da frota de caminhões que seja efetivo, inovador e que contemple todos”, relaciona Tayguara.
Das empresas pesquisadas, foi possível distinguir uma característica em comum, a de terceirizar parte da frota, cada uma terceiriza em média um pouco mais de 200 veículos.
Política nacional
Concordam com às medidas tomadas pelo governo federal, em relação às reformas existentes e em andamento, a maior parte das empresas. Em especial, a Reforma Trabalhista é aprovada pela maioria dos entrevistados, do mesmo modo que a Reforma Previdenciária. Embora, ainda tenha uma aprovação alta, a reforma que obteve menor destaque na pesquisa foi a Reforma Política.
Já em relação ao Piso Mínimo Frete há uma clara divisão entre as empresas. Quase a metade das transportadoras entrevistadas se mostram preocupadas com esta resolução, tendência em todos os segmentos pesquisados. O fato é que a maioria delas não notou uma alteração significativa do volume de carga após o estabelecimento do Piso Mínimo.
Sobre a atuação do governo, Tayguara reforça que “merece destaque a atuação positiva com política de mercado mais ampla e abertura da atividade econômica”. Por outro lado, o presidente da entidade frisa que medidas específicas em relação ao TRC não estão ajudando muito. “O piso mínio do TRC (tabelamento do frete) e um possível CIOT para todos, atrapalham o desenvolvimento do setor, porque burocratiza a operação”, acrescenta Tayguara.
“Em cima dos resultados específicos da pesquisa, concluímos que 2019 foi um ano positivo para as empresas do setor que estão se recuperando de um período de estagnação. Há crescimento, mas que varia de transportadora para transportada, em ritmos e proporções diferentes”, avalia Fernando.
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