Acompanhamos o transporte gratuito dos primeiros carregamentos de vacina contra o Covid-19, para registrar a tão esperada sensação de distribuir doses de esperança
Elas foram e ainda são, extremamente aguardadas. Com cientistas de todo mundo trabalhando praticamente 24 horas por dia, para descobrir composições capazes de servir de imunizantes contra a pandemia do novo coronavírus ou Covid-19 (nome científico SARS-CoV-2).
As primeiras doses chegaram ao Brasil vindas do laboratório chinês Sinovac, no dia 20 de novembro. Daí aguardamos por uma espera de quase dois meses, até a aprovação do uso emergencial pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), que ocorreu no dia 17 de janeiro, data na qual a primeira brasileira em solo, a enfermeira Mônica Calazans, recebeu a dose que marcou o início da vacinação contra o coronavírus no País. Na sequência, os profissionais da linha de frente da área da saúde também foram imunizados.
No dia 5 de fevereiro, São Paulo, a maior capital do país, iniciou a vacinação dos grupos prioritários, idosos com mais de 90 anos. Então, com o início de uma distribuição massiva, entrou em cena uma logística de carregamento rápida, eficaz e acima de tudo solidária, para garantir que as doses cheguem a quem precisa.
“Para nós a vacina é a prioridade Número 1”, afirmou Tayguara Helou, presidente do Conselho Superior e de Administração do SETCESP, ao anunciar em 6 de janeiro, durante a primeira reunião de 2021 do Comitê Empresarial Solidário, que os empresários do transporte de cargas se uniriam para doar o transporte das vacinas contra o Covid-19.
Um compromisso importante assumido por conhecer que é o transporte rodoviário o modal responsável pela distribuição na última milha, e que toda mobilização e comprometimento que ajuda a salvar vidas, é mais que imprescindível.
No Brasil, a vacinação de 200 milhões de pessoas é um enorme desafio, embora no SUS (Sistema Único de Saúde) já existam estruturas para campanhas de vacinação, essas sempre compreenderam determinadas faixas etárias. Nunca antes, houve uma campanha que abrangesse toda a população.
TEMPERATURA DE CONSERVAÇÃO
“Na logística tudo é possível, embora seja preciso avaliar até que ponto é economicamente viável”, explicou Gylson Ribeiro, diretor da especialidade de transporte Farmacêutico no SETCESP. Ele esclarece que para a distribuição das doses no país a palavra chave é ‘planejamento’ por conta das grandes distâncias de deslocamento.
Aliás, levar vacinas contra o Covid-19 a todos os cantos é um desafio logístico com poucos precedentes. Principalmente, porque estamos falando de imunizantes diferentes.
Atualmente, existem pelo menos 10 tipos de vacinas no mercado e outras 44 ainda em fase de testagem. Vale lembrar que, entraram em testes no Brasil as vacinas: CoronaVac, Oxford-AstraZeneca, Pfizer-Biontech e Janssen.
Dessas disponíveis no mercado, além da CoronaVac, o Brasil iniciou a vacinação também com a Oxford-AstraZeneca. Em 19 de março, o Ministério da Saúde anunciou que assinou contratos com as farmacêuticas Pfizer e Janssen, para compra de 138 milhões de doses de vacinas. No mesmo dia, o consórcio de governadores do nordeste anunciou a compra de 37 milhões de doses da Sputnik V.
Em comunicado, a Pfizer disse que o fornecimento deve ocorrer até o final do terceiro trimestre de 2021. Já a previsão da vacina russa é que chegue ao Brasil entre os meses de junho e julho deste ano.
Cada um dos imunizantes têm suas características e envolve cuidados distintos. Para a logística o ponto decisivo é a temperatura de conservação de cada produto.
A da Janssen, além de ter ao seu favor o fato de funcionar em dose única, ela também pode ser guardada em uma geladeira comum. A CoronaVac, assim como a de Oxford, pode ser armazenada em temperaturas normais de freezers de 2 a 8 graus Celsius, portanto, ambas podem ser distribuídas utilizando os canais já existentes para outras vacinas, como já vem ocorrendo.
Dados preliminares do fabricante mostram que a Sputnik V deve ser armazenada a 18 graus negativos. No entanto, a empresa testa um processo de liofilização, um tipo de desidratação da vacina, que, assim, poderá ser armazenada em temperaturas normais de geladeira.
Já a imunização da Pfizer, precisa de temperaturas ultra frias, de 70 graus abaixo de zero, entretanto a Agência de Alimentos e Medicamentos Americana (FDA) aprovou o armazenamento e transporte da vacina em temperaturas de congelador padrão por até duas semanas, ao invés de instalações ultra frias, e o mesmo deve ocorrer no Brasil.
“Desta forma é possível que as doses da Pfizer sejam distribuídas nos grandes centros, onde existe a concentração da maior parte da população e a dinâmica de logística e aplicação poder ser mais rápida, e não necessitaria de ficar por tanto no armazenada” explicou Ribeiro.
Ele acredita que o ideal é que as vacinas Pfizer sejam aplicadas nas grandes metrópoles e no interior do país sejam levadas as doses dos outros imunizantes, que são de mais fácil armazenamento e conservação. “Não existe mistério, é só uma questão de organização. Em todo caso, se for preciso, existem no país empresas preparadas com ultra freezers que garantem a conservação no transporte”, sinaliza ele.
O CUIDADO QUE MANTÉM A QUALIDADE
Como percebemos o armazenamento é realmente algo crucial para as vacinas transportadas. Para manter a qualidade dos imunizantes, os 20 caminhões que foram disponibilizados pela transportadora West Cargo para os carregamentos de vacinas possuem modernos equipamentos de refrigeração, que mantém os frascos na temperatura ideal de 4 graus, de acordo com Kelly Martins, gerente executiva administrativa da transportadora associada ao SETCESP.
Dentro do baú dos caminhões há sensores com um termômetro, que é justamente para sinalizar se durante o transporte ocorreu alguma variação de temperatura. Segundo Martins, “essa temperatura é vistoriada por uma equipe capacitada, que tem acesso ao rastreador via satélite instalado, para que informações relacionadas à medição dela cheguem on-line”, revela.
“Nunca um caminhão foi tão aguardado pela população como agora esses são. Nosso setor está de braços abertos e apoiando esta causa que é tão importante para todos nós brasileiros”, disse Helou, durante o transporte gratuito do primeiro lote das vacinas.
O presidente do SETCESP, ainda prestou sua homenagem aos profissionais do segmento que estão atuando para que as vacinas cheguem em todas as regiões. “Nossos motoristas são verdadeiros heróis e não poderia deixar de saudá-los, assim como, aos resilientes empresários do nosso setor de transporte rodoviário de cargas, que também se mantiveram de pé, operando e mantendo a população abastecida e, agora, fazendo esta operação para ajudar a sociedade como um todo”.
OS HERÓIS DAS ESTRADAS
“Todo o time da West Cargo se sente privilegiado em fazer parte desse momento histórico e retribuir a população do estado de São Paulo, por meio desta doação de transporte, um pouco do acolhimento que sempre tivemos. Esperamos que todos sejam imunizados o quanto antes, e que tudo volte à normalidade, nosso desejo principal é que as pessoas tenham saúde”, declarou o presidente da transportadora e vice-presidente do SETCESP, Hélio J. Rosolen.
Elias Freitas Reis e José Carlos Pereira da Silva são os nomes dos dois motoristas profissionais que fizeram o primeiro transporte gratuito da vacina contra o Covid-19 em São Paulo.
De acordo com José Carlos, levar as doses até o centro de distribuição de Guarulhos lhe deu uma enorme satisfação. “É um trabalho mais do que essencial, que eu farei com muito carinho e todo o respeito possível”, disse, antes de pegar no volante e abastecer o baú do caminhão com as caixas da vacina CoronaVac, coletadas no CDL (Centro de Distribuição e Logística) de Pinheiros.
Para Elias Freitas Reis, que foi até Campinas com os imunizantes, fazer parte desta história é motivo de muito orgulho. “Já tem um ano que a população está passando por esse sofrimento, com a expectativa de que a vacina chegue logo. Fazer esse serviço, o de levar esperança para o povo, me deixa extremamente orgulhoso”, ressaltou.
Em entrevista ao jornal Bom dia S. Paulo, o presidente do SETCESP reiterou a missão: “temos veículos dedicados inteiramente a essa operação, 24 horas por dia. A ideia é transportar 100 milhões de doses”, confirmou.
Até o fechamento desta edição, o TRC já havia transportado em São Paulo mais de 30 milhões de doses da vacina gratuitamente, e o estado ultrapassava a marca de 4 milhões vacinas aplicadas.
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