‘Um denominador coerente com a realidade’
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César é CEO da Pelog Soluções Logísticas. Ele tem participado ativamente das atividades do setor e contribuído nas assembleias para melhorar o entendimento com as entidades sindicais dos profissionais. Quem conhece o setor, já deve ter identificado seu sobrenome. César é filho de Francisco Pelucio, de quem ele conta ter recebido uma vasta herança de conhecimento, acrescida pelos anos de trabalho no transporte de cargas

César, conte-nos um pouco sobre foi sua trajetória no setor de transporte até aqui?

Praticamente eu nasci dentro de uma transportadora, porque meu pai, Francisco Pelucio, [presidente da NTC&Logística] fundou a transportadora 1040, no ano de 1964, e eu nasci dois anos depois. Na minha formação, optei pela graduação em Administração de Empresas, também pensando na continuidade dos negócios, e acabei seguindo até com naturalidade esse caminho.

Logo cedo comecei a trabalhar, assumi uma posição na 1040, mas depois busquei experiência em outras atividades correlacionadas como a área de distribuição e o comércio. Tive a oportunidade de participar de um projeto que envolvia operações logísticas, mas voltado para comércio e distribuição de produtos. Quando este negócio ganhou corpo, na época eu e meu sócio fizemos uma cisão, e eu segui com a atividade de operador logístico, que é onde atuo hoje. Sou o CEO da Pelog Soluções Logísticas. Trabalhamos com armazenamento, cross docking e distribuição de produtos. Nossa especialidade é o last mile.

Apesar de ser feito de altos e baixos, é um negócio que conheço desde que nasci, e não me vejo fora dele. Além de ser algo que eu sei fazer. É o que me completa e o que me desafia todos os dias.

Como é fazer parte do comitê das negociações salariais com os sindicatos profissionais da base territorial do SETCESP?

Eu sempre acompanhei as negociações e os resultados delas de um jeito mais distante. Fazer parte do comitê negociador este ano, foi uma coisa nova. Foi interessante porque, consegui me familiarizar com os temas e entender como as negociações se desenvolvem e todo o trabalho que os assessores jurídicos fazem para encaminhar as tratativas. São 11 sindicatos diferentes dentro da base territorial do SETCESP, então por aí se vê o nível da complexidade das negociações. Mas durante todo o processo os assessores jurídicos, com toda a experiência ao longo de anos de negociação, dão sequência às tratativas com muita prudência e ponderação.

Quais foram os principais índices levados em consideração para o cálculo dos reajustes salariais?

A base utilizada para o reajuste na negociação foi o INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) que corrige o poder de compra dos salários, através da mensuração das variações de preços impactadas pela inflação no período. Além disso, também foi considerado um adicional de 2% para refletir em um ganho real.

Em sua opinião, quais são os fatores que mais atrapalham uma negociação coletiva?

O que pode atrapalhar é a falta de bom senso, pedidos incoerentes com a realidade da economia. As tratativas ocorrem no sentido que se garanta boas condições de trabalho e para que, as empresas também mantenham sua saúde financeira e honrem seus compromissos, de acordo com o cenário e a conjuntura econômica do mercado. Não que seja fácil, são demandas com forças opostas. Mas quando se tem uma visão de que todos trabalham com o mesmo objetivo encontramos um denominador coerente. Afinal, as empresas do setor querem boas condições para seus colaboradores, são eles que contribuem para a qualidade do serviço prestado e movimentam o setor, mas é preciso ter os pés no chão sobre qual é a atual realidade.

Alguns indicadores apontam que a economia está se recuperando. Outros dizem o contrário. Em termos de mercado, qual é o cenário atual para o transportador?

Em todo início de governo o grande desafio é o entendimento de que é preciso o controle das despesas e o equilíbrio fiscal. Esses são fatores fundamentais para garantir a saúde econômica do país. A gente já acompanha alguns embates entre os poderes executivos e legislativos neste assunto.

É preciso equilíbrio e consciência de gastar menos do que se ganha, no caso, do que se arrecada, para que inflação não entre em uma escalada, o que pode refletir em um cenário bastante negativo, como um todo e, não apenas para o transportador. Passamos recentemente por uma pandemia, que causou instabilidades em todo o mundo. Nos recuperamos, porque fomos austeros para manter o controle. Eu espero que isso tenha continuidade, para que o ambiente econômico esteja favorável.

Tem se falado de uma possível volta das contribuições sindicais obrigatórias, não da mesma forma que eram feitas antes da Reforma Trabalhista. Ainda assim, como avalia os impactos, caso viesse ocorrer?

Qualquer coisa que seja obrigatória e que subtraia o poder de compra do colaborador, de uma maneira unilateral, é prejudicial. Acho que o modelo de contribuição opcional deveria ter continuidade. Se isso vai permanecer ou não, o tempo irá dizer. E sinceramente, acho que deve impactar no custo do setor, porque quando você reduz a capacidade e o poder de compra do trabalhador, automaticamente as negociações salariais acabam sendo mais recrudescidas, e de uma forma ou de outra, deve acabar refletindo nos custos, e consequentemente, nos preços do setor de transporte.

O transporte rodoviário de cargas é um setor bastante tradicional, em que inovar, às vezes, se torna um desafio. Na sua opinião, as empresas deveriam se permitir mais ao uso de novas tecnologias?

É primordial estar antenado com as tendências, tanto em termos de tecnologia, quanto em sustentabilidade. Há muitas questões que devem ser enfrentadas a curto prazo, como por exemplo, a substituição das matrizes de energia e a tecnologia ajudará com isso. Precisaremos encontrar caminhos para a preservação do meio ambiente e diminuição de gases do efeito estufa. Outro detalhe, é que já existem exemplos impressionantes, dentro do próprio setor, de ferramentas e sistemas que agilizam os processos.  O empresário do setor de transporte precisa estar totalmente conectado. Não há outro caminho senão a atualização e a oxigenação, para que a inovação esteja o mais presente possível. Isso faz parte do processo de manutenção de vida de qualquer negócio, dentro de qualquer setor.

Outro assunto que anda sendo um ponto de atenção para o setor é uma possível reoneração da Folha de Pagamento. Qual a sua opinião a respeito?  

O setor tem muitos segmentos e uma variedade grande de modelos de gestão. Algumas empresas têm um número impressionante de colaboradores, em que o impacto da reoneração pesa muito mais. Obviamente, como a prestação de serviço se baseia intrinsecamente na atividade do colaborador, à medida que a desoneração acabe isso vai onerar os custos das transportadoras que vão repassar para a sociedade. Por isso, que o setor de serviços está travando uma luta para que a desoneração permaneça. Se isso não ocorrer, o transportador deverá se adequar o mais urgente possível para que a longevidade dos negócios seja garantida.

Olhando para o futuro, qual recado gostaria de deixar para os empresários do transporte rodoviário de cargas?

Vamos nos manter unidos e recorrer, sempre que preciso, as entidades representativas que são os sindicatos, as federações e as associações. Aqui temos muita riqueza no intercâmbio de ideias, o que ajuda a sobreviver dentro de um ambiente econômico, que às vezes é hostil, complicado e cheio de incertezas.

O nosso setor é primordial para a sociedade civil, e olhando para o quão importante ele é, talvez fique mais fácil, passar pelos obstáculos e enfrentar os desafios no dia a dia.


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