‘Um outro olhar, unindo o que já foi feito à novas ideias’
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Francisco Pelucio foi eleito no ano passado presidente da NTC&Logística – Associação Nacional de Transporte e Logística, mas soma uma bagagem de mais de 30 anos de trabalho em entidades do setor. Partidário do lema “continuação sem continuísmo” demonstrou que pretende dar sequência ao trabalho que já estava sendo devolvido na entidade, porém com viés inovador para superar os resultados já alcançados. Em entrevista, ele compartilhou suas expectativas e os desafios que pretende enfrentar. Confira!

1) Fazendo um balanço, desses anos de atuação em entidades de classe, quais as principais conquistas neste período para os transportadores?

Foram muitas conquistas, mas considero que a desoneração da folha de pagamento e também o acesso aos veículos de carga na cidade de São Paulo, que era até as 5h da manhã e com muito trabalho passou a ser estendido para as 9h, contribuiu e muito para o desenvolvimento da nossa categoria, uma vez que, na cidade passa boa parte de tudo que é transportado no país. Outra grande conquista, é a união, sempre mantive boa relação com todos e faço questão de estar junto com quem movimenta o nosso setor e incentivar a participação ativa em nossas entidades.

2) Depois de presidir a ABTF – Associação Brasileira de Transportadores Frigoríficos, a ABTI – Associação Brasileira de Transporte Internacional e o SETCESP, como é estar à frente da NTC&Logística?

Me sinto extremamente honrado pela confiança de poder representar essa classe tão importante e necessária para o País, e espero corresponder a isso, fazendo o melhor em benefício do Transporte Rodoviário de Cargas. 

3) Um dos legados que o senhor deixou na gestão do SETCESP foi a criação da Cooperativa de Crédito que hoje é administrada pelo SICREDI. Como o senhor avalia o papel desta instituição financeira para os empresários do TRC?

Foi uma grande conquista para o setor, hoje vejo como o SICREDI cresceu e a cada dia desponta mais no mercado e fico orgulhoso. Todo o lugar que vou, vejo agências das cooperativas e me lembro do trabalho sério e engajado que desenvolvemos naquela época para que ela se tornasse o que é hoje. Na época não podíamos fazer negócios como são feitos hoje para qualquer pessoa e empresa, era somente para o empresário do transporte, e mesmo assim, tivemos resultados muito positivos, o que ficou mais forte aos longos dos anos.

4) Quais as principais agendas da entidade para esse novo ciclo? O que o senhor pretende deixar como marca da sua gestão?

Nossa gestão tem como objetivo continuar avançando em questões que atingem diretamente a atividade das transportadoras em todo o Brasil. O meu papel será dar continuidade ao excelente trabalho desenvolvido pela gestão anterior, com foco em fazer ainda mais pelo setor. Para isso vamos analisar todos os pontos e conduzir esse processo visando questões mais urgentes, e com um novo olhar, unindo o que foi feito e acrescentando novas ideias para contribuir e alcançar os resultados que todos precisamos e esperamos para o Transporte Rodoviário de Cargas.

5) A NTC&Logística hoje representa diferentes modais de transporte de cargas, como é o desafio em alinhar os distintos interesses dentro da entidade?

Acredito que temos um só objetivo que é o desenvolvimento sustentável do nosso setor, mesmo tendo vários modais, as lutas são as mesmas, e para isso sempre nos encontramos em eventos e reuniões para discutir em conjunto os rumos do setor. A NTC também atua através de comissões e câmaras técnicas o que ajuda e muito, a entendermos as principais demandas daquele ramo específico e aí podemos contribuir de alguma forma. Outra importante ação que desenvolvemos, são os vice-presidentes regionais ou de área específica, como por exemplo o Fernando Luft que é do Transporte de Produtos Farmacêuticos, Gladstone Viana Diniz Lobato do Transporte de Granéis e Sólidos ou José Maria Gomes do Transporte de Produtos Perigosos, através disso conseguimos atender bem todas as áreas.

6) Após a greve dos caminhoneiros em 2018, foram estabelecidas medidas para a cobrança do frete. Qual a sua opinião sobre a tabela do frete e a política do Piso Mínimo?

Nós, da NTC, não defendemos a Política de Piso Mínimo do Frete, mas trabalhamos para que pelo menos o trabalho e os cálculos sejam feitos de forma correta e justa, utilizando a experiência do Departamento de Custos Operacionais (DECOPE) de mais de 40 anos no acompanhamento dos custos do setor – participamos com frequência das audiências públicas, das reuniões técnicas agendadas pela ESALQ (Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”) e com contribuições por escrito sobre os pontos que acreditamos que devem ser alterados e melhorados.

7) Uma agenda de concessões vem sendo seguida pelo Ministério da Infraestrutura. A título de exemplo, estão a Via Dutra e os aeroportos de Congonhas e Santos Dumont, considerados valiosos pelo mercado. O senhor avalia isso como um bom caminho para melhorar a infraestrutura logística do País?

Temos um país continental com diversos problemas que dificultam a qualidade com que as empresas gostariam de exercer a atividade transportadora. Reconheço os esforços do atual Ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, mas muito ainda precisa ser feito. Como falta dinheiro para o governo, a Parceria Público Privada passa, sim, ser uma das opções, junto com as Privatizações e Concessões, que são o objetivo desse governo. Nossa gestão irá acompanhar de perto esses investimentos e os avanços, para cobrar e sugerir um olhar mais atento neste sentido.

8) Sobre o Marco Regulatório do Transporte de Cargas, o senhor tem alguma expectativa que seja votado e aprovado este ano no Senado? No caso de aprovação, quais impactos disso para o TRC?

Esperamos que sim, o governo tem avançado nas reformas estruturais do país e esperamos que avancem com o Marco Regulatório do TRC também.

Sobre os impactos, a NTC defende alguns pontos que seriam de fundamental importância para o setor.

– Primeiro, a definição expressa de responsabilidade pela contratação de seguros obrigatórios do transporte pela empresa transportadora, tanto do RCTRC (Seguro de Responsabilidade Civil do Transportador Rodoviário de Carga), como do RCDC (Seguro de Responsabilidade Civil por Desaparecimento de Carga), vinculando-se a contratação pela empresa de transporte ao Registro junto à ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) no RNTRC (Registro Nacional de Transportadores Rodoviários de Cargas), sendo proibida a contratação pelo embarcador.

– Segundo, a previsão de ser estabelecido o gerenciamento de risco – PGR (Programa de Gerenciamento de Riscos) – de comum acordo entre a transportadora e a seguradora, podendo ser parte da apólice de seguro, proibida a exigência de diferentes PGR da transportadora. O PGR só terá validade quando aceito formalmente pela transportadora.

– Terceiro item, maior segurança jurídica nos contratos de transporte com a previsão de responsabilidades do embarcador e destinatário quando efetuar operações de carga e descarga com a obrigatoriedade de registrar horário de chegada do veículo no respectivo estabelecimento, como meio de dimensionar a indenização devida pela demora na operação, além do limite máximo previsto em lei de cinco horas, ou daquele que for estipulado em contrato.

– E por último, a proibição pelo embarcador de valores relativos a danos e avarias à carga sem a emissão do respectivo documento fiscal.

9) Recentemente, o governo deu sinais de uma redução de preços, por meio da isenção de ICMS, nos combustíveis. No entanto, o imposto representa quase que 20% da arrecadação dos estados, e os governadores se mostraram bastante resistentes, e a ideia já perdeu força. Diante de tal situação, como o senhor avalia atual política de regulação de preço do diesel no país?

Precisamos de uma direção, não é possível ter aumento todo dia ou toda semana, imagina se isso acontecesse com o salário mínimo e outras áreas?! É necessário ter uma política de aumento a cada período, para que possamos nos programar e não ter surpresas, não é admissível abastecer hoje um valor e amanhã estar outro, é necessário o governo melhorar essa política de aumento e seguir uma direção que beneficie o consumidor.

10) Qual recado o senhor gostaria de deixar para os nossos leitores?

Gostaria, novamente, de agradecer aos transportadores pela confiança e deixar a Associação Nacional de Transporte de Cargas e Logística – NTC&Logística à disposição para entender a demanda dos transportadores através das entidades locais e dialogar com as autoridades a nível estadual e federal, buscando o melhor em benefício do Transporte Rodoviário de Cargas.

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